Verdadeiramente Livres

Semana passada completamos 200 anos de Independência do Brasil. Um motivo para celebrar e comemorar. Mas, por certo, a maioria de nós sabe que a cena do grito da independência, retratada lindamente na pintura de Pedro Américo, aquela tela que todos temos na memória de Dom Pedro no cavalo com a espada empunhada ao alto, não representa exatamente o fato histórico. Há uma supervalorização da plástica e da arte em detrimento da realidade, por motivos vários. Contudo, a realidade da independência brasileira precisava ser “fotografada” e guardada com muito carinho, e até mesmo com certo orgulho, pois a independência que buscávamos de Portugal foi alcançada, e foi, certamente, um motivo de celebração.

A realidade em que vivemos, diferente de qualquer manifestação plástica, é um processo árduo que envolve nossa busca de constante de “independência” – falo sobre a nossa pátria. Somente um “grito” não nos torna livres, é preciso muito mais. Somos livres e libertos à medida que conquistamos e solidificamos essa independência em nossa caminhada, às vezes, até mesmo, pelo “grito”. São anos, séculos, que fazem deste “Brasil quase independente” a continuar sua caminhada na direção da ordem e do progresso. E ainda há muito que ser feito.

Como a pintura plástica, muitas vezes, retrata realidades distorcidas, corremos o risco de acreditar que nossa independência passa pela mesma tela simbólica, estática e artística. Corremos o risco de esquecer que a vida real cá fora não é bem assim. Não dá para esperar por nossa desejada independência através de “passes de mágica”, seja ela qual for. Há sempre que investir nela e no processo para alcançá-la. É necessário investimento intencional e uma implicação real com os fatos da vida. Sem esse investimento, nunca seremos livres.

A verdade que liberta, em suas vertentes natural e espiritual, deve ser perseguida por todo cristão, e aqui me refiro a nossa alma. No âmbito natural, não podemos nos esquivar de nossos compromissos com a Verdade e seus valores. A realidade de nossa existência fugaz e passageira precisa ser balizada e orientada por valores cristãos que tanto prezamos. Devemos enfrentar com muita disciplina, força, esperança, fé e muita coragem os desafios que se apresentam diariamente diante de nós: olhando sempre para frente e caminhando firmes com Jesus, porque somente caminhando é que encontraremos soluções. Nada de ficar parado esperando o mundo girar, pois é preciso caminhar na confiança que temos um propósito a perseguir aqui nesta terra.

Assim, devemos viver a realidade que Deus nos permite viver: as perdas precisam ser encaradas e o luto enfrentado; as nossas incertezas mais profundas, precisam ser revistas com os olhos da esperança; nossas dificuldades financeiras, quase que intransponíveis, projetadas com a disciplina e o rigor de um bom orçamento e muito trabalho; o cotidiano estressante e cansativo, lembrado com alegria quando do retorno para casa; a política mesquinha, corrupta e mentirosa, debelada com votos conscientes e limpos; os relacionamentos, que por vezes precisam de revisão, encarados com amor, ternura e perdão; o nosso passado, com seus traumas e lembranças, tratados com a graça libertadora de Jesus (e como ela liberta!). Lembre-se também que uma boa pitada de benevolência faz muito bem quando tratamos conosco mesmo. Ou seja, devemos viver a vida como ela é, na certeza que o nosso amigo Jesus sempre estará conosco.

A outra vertente, a espiritual, é o pleno conhecimento do Evangelho e de sua verdade que definitivamente liberta para todo o sempre. Essa é a verdadeira independência da morte e a completa dependência da vida. O Evangelho diz que conheceremos a verdade e ela nos libertará – da morte e do pecado, nos trazendo vida abundante na dependência linda e generosa do Espírito Santo. Essa é nossa esperança: sermos livres pela Verdade. E Jesus Cristo é essa verdade.

Além disso, os padrões e valores deixados pelo Mestre em sua Santa Palavra são verdades que nos garantem certezas na caminhada: certezas de lutas, mas principalmente de vitórias, afinal de contas, não há como celebrar vitórias sem dificuldades e lutas. Verdades que precisam, intencionalmente, ser vividas e testemunhadas. Dessa forma, vivemos livres.

E assim, com fé no Eterno e nas verdades libertadoras do Evangelho de Jesus Cristo, vamos mais longe e alcançamos a liberdade que tanto almejamos, sempre na dependência dEle!

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