O Arrependimento não é um ato isolado em nossa vida, mas um caminho a ser trilhado todos os dias em nossa história. Vivemos um mundo mal, ruim e egoísta, tudo isso devido ao pecado do homem. A maldade e o egoísmo fazem parte da vida do ser humano. Pecamos, pois somos pecadores, e o pecado está inserido em nossa vida. O arrependimento vem para auxiliar na tratativa desse mal. Ele não pode ser visto como uma ação única em nossa história, mas o caminho para fazermos o progresso em nossa vida cristã.
Atrevo a dizer que existem dois principais tipos de arrependimento, o religioso e o do Evangelho. O religioso é aquele que pauta meu arrependimento no meu egoísmo, movido apenas pelas consequências do pecado ou o castigo que ele trará à minha pessoa. Ele é cheio de justiça própria, servindo até como uma forma de expiação dos pecados ou autopunição pelos mesmos pecados, trazendo um entendimento que preciso sofrer para ser perdoado. Retiro os olhos da graça de Cristo e coloco nas minhas ações para eu “merecer” o perdão. Aquilo que faço ou deixo de fazer, se torna um modo de deixar Deus “feliz” e poder ser abençoado por ele no que preciso, usando o arrependimento dos erros como meio de “convencer” Deus, e eu mesmo, que sou miserável e preciso dele, para o meu bem, e não para glória dele. Jerônimo, teólogo que traduziu a Bíblia para o latim (Vulgata), ele traduziu a palavra “Arrepender-se”, como “fazer penitência”, ou seja, mostrar como você está arrependido. Fazer a penitência é um ato do momento e naturalmente um ato externo. Atos meramente externos não mudam nossa vida, o que muda são ações vindas de um coração contrito e arrependido.
Já o arrependimento do Evangelho é aquele que coloca Cristo como Senhor, reconhece o preço pago por ele na cruz, entende que é preciso perceber o mal que fez e corrigir, por amor a ele, sem barganha, troca ou tentativa de merecimento, mas exclusivamente por ele. Entendo que é uma nova inclinação no centro do seu ser, porque vejo a hostilidade, a inimizade que causei a Deus em cada pecado realizado, e mesmo assim o Espírito Santo me conduz a perceber e viver o amor e a graça que emana do Pai. Nesse momento vejo que no interior mudou algo, é Cristo sendo centralizado. O verdadeiro arrependimento flui de um novo coração, com um novo entendimento de mudança de percepção e propósito, deixando o Eu de lado e colocando Cristo no centro. Esse fluir de um novo coração muda tudo ao redor. Apesar de termos várias inconsistências em nossa vida, a única certeza que precisamos ter é que o Pai nos ama como somos e que ele irá nos ajudar a sermos melhor a cada dia, por meio dele e para glória dele. No Breve Catecismo de Westminster a pergunta 87 é: O que é o arrependimento para vida? A resposta é esta: Arrependimento para a vida é uma graça salvadora pela qual o pecador, tendo um verdadeiro sentimento do seu pecado e percepção da misericórdia de Deus em Cristo, se enche de tristeza e de horror (ódio ) pelos seus pecados, abandona-os e volta para Deus, inteiramente resolvido a prestar-lhe nova obediência. (2Co 7.10; At 2.37; Lc 1.77-79; Jr 31.18-19; Rm 6.18.).
Que possamos deixar o Evangelho realizar o trabalho dele em nossa vida, o Espírito sondar os nossos corações, o Pai mostrar o seu amor e o Cristo mostrar o caminho a ser trilhado, vivendo assim uma vida arrependida e voltada para Cristo.