Em Mateus, encontramos um dos textos que fala sobre o chamado para os doze discípulos de Jesus. Esse momento também é retratado nos evangelhos de Marcos e Lucas e é o momento em que Jesus envia esses discípulos para pregarem o Reino. Podemos dizer que esse é o primeiro “IDE”, sendo que, mais tarde, antes de subir aos céus, Jesus novamente convocará seus discípulos para a Missão: “Portanto ide, fazei discípulos de todas as nações, batizando-os em nome do Pai, e do Filho, e do Espírito Santo; ensinando-os a guardar todas as coisas que eu vos tenho mandado…” (Mateus 28.19 e 20).
Sabemos que foram 12 os primeiros discípulos de Jesus, mas temos pouca informação sobre a vida desses homens. Muito provavelmente eram homens comuns, que só ganharam alguma notoriedade por serem seguidores de Jesus. Temos informações de alguns deles, por exemplo, sabemos que Pedro, André, Tiago e João eram pescadores. Sabemos que Mateus era cobrador de impostos para o governo Romano.
Também podemos interpretar um pouco sobre a personalidade de alguns deles. Pedro, por exemplo, que mostra seu temperamento impulsivo por algumas vezes, inclusive na famosa passagem do Jardim do Getsêmani, cortando a orelha de um dos guardas que foi prender Jesus. Sabemos também de João, que era chamado o discípulo amado, que escreveu com tanta ternura suas cartas falando do amor de Deus. Podemos interpretar um pouco sobre Filipe e André no episódio da multiplicação dos pães e peixes (João 6.1-13). Naquele dia, Jesus se voltou para Filipe e fez a célebre pergunta: “Onde vamos comprar pão para que todos possam comer?”. Filipe logo responde com um cálculo monetário – talvez ele fosse do tipo mais racional, analítico. André, logo responde com a informação que havia um rapaz com 5 pães e 2 peixinhos e ainda diz: “Mas, o que é isso para alimentar tanta gente?”. Talvez André fosse mais curioso; talvez ele quisesse ver o que Jesus poderia fazer. Temos também Tomé, que, ao ver o Cristo ressurreto, quis tocar as feridas para que comprovasse que realmente aquele era Jesus. Talvez Tomé fosse do tipo “preciso ver para crer”.
O objetivo aqui é percebermos que, apesar de não termos com exatidão muitas informações sobre esses homens, uma coisa é certa: Jesus chamou um grupo muito diversificado de discípulos. Cada um com sua profissão, sua história, sua personalidade, seu temperamento. Cada um foi chamado pelo Mestre. Um grupo com muitas personalidades, muitas habilidades, muitos defeitos. Um grupo bem diverso, mas com uma única missão: enquanto vocês estão indo pelo caminho, preguem o Reino de Deus (Mateus 10.7).
Temos dois pontos importantes aqui. O primeiro tem relação com essa diversidade dos discípulos; certamente cada um tinha seu jeito de levar a Palavra de Deus. Talvez um era mais eloquente, mais incisivo nas palavras. Talvez outro começasse falando sobre o tempo, algum acontecimento e então falava do Reino. Jesus inclui todas essas pessoas diferentes, com formas diferentes para cumprir a Missão.
O segundo ponto, igualmente importante, é que, independentemente do formato da pregação, a Missão é uma só. O chamado não varia de discípulo para discípulo. A missão que Mateus narra nos versículos seguintes é a missão de Jesus e a missão de todos que o seguem: pregar aos perdidos; curar os enfermos, trazer de volta à vida quem está morto; purificar as pessoas adoecidas e excluídas da sociedade, e expulsar demônios. Essa missão já havia sido apontada pelo Profeta Isaias (Isaias 61.1-2) e é citada por Jesus novamente em Lucas 4.18 e 19: “O Espírito do Senhor está sobre mim, porque ele me ungiu para pregar boas novas aos pobres. Ele me enviou para proclamar liberdade aos presos e recuperação da vista aos cegos, para libertar os oprimidos e proclamar o ano da graça do Senhor”.
Mas como poderemos cumprir nossa missão, sendo tão diferentes uns dos outros? Como isso é possível, já que não somos todos iguais?
A chave para isso está no final do versículo 8, de Mateus 10: “…de graça recebestes, de graça dai”. TUDO o que temos e TUDO o que somos recebemos do Senhor. Nossa história toda foi desenhada por Ele. TUDO é graça. Não fomos chamados para a Missão porque somos merecedores. Não fomos chamados para a Missão porque somos melhores que outros. Fomos chamados por graça. Se conseguirmos reconhecer tamanha graça e quão pequeno somos, conseguiremos trabalhar na mesma missão, com pessoas tão diferentes de nós. A graça é o antídoto para o orgulho, para as divisões. E, se recebemos tamanha graça, devemos também dispensá-la aos nossos companheiros de jornada.
Seja qual for sua personalidade, seja qual for seu temperamento, sua história, seus traumas, suas qualidades e defeitos, você é chamado para uma missão. Junto com irmãos e irmãs com outros temperamentos, histórias, qualidades e defeitos. A Missão é irmos caminhando, mostrando a graça de Cristo por onde passarmos, e, assim, cumprindo nossa missão.
Que o Senhor da Missão nos abençoe e que possamos repartir tamanha graça.