Tu, porém – 2 Tm 3.10-17

“O Tempora! O Mores!” (Que tempo os nossos! E que costumes!), bradou Marcos Túlio Cícero no ano 63 a.C. em seu discurso “As Cantilinárias” ao contemplar a maldade e a corrupção de seu tempo no Império Romano. Talvez estas palavras soariam adequadas na boca de um fiel devoto evangélico ao observar a sociedade, o governo civil e parte do evangelicalismo tupiniquim de nosso próprio tempo.

Ainda que tal juízo esteja pairando sobre nossa nação, afirmamos categoricamente que a esperança não cessa! Por quê? Porque ainda há o Evangelho de Cristo e este é o poder de Deus para a salvação de todo aquele que crê (Romanos 1:16); um alicerce seguro para a edificação do Corpo de Cristo e, por quê não, de nossa sociedade. Para a santa Igreja de nosso Senhor, mesmo em tempos hostis e tenebrosos, há uma maravilhosa graça e uma resplandecente luz que não cessam.

Este quadro retrata bem o “zeitgeist” (“espírito do tempo”, “sinal dos tempos”) já operante no período em que o apóstolo Paulo escreve sua segunda carta a Timóteo. Em sua advertência ao jovem pastor, asseverara a profunda e crescente corrupção que marcaria não somente aquela ocasião, mas todo o interregno entre a primeira e a segunda vinda de Cristo (2Timóteo 3:1-9). Ademais, conclama-o ao fiel exercício pastoral como instrumento de Deus na preservação, edificação e desenvolvimento da Igreja de Cristo. O episcopado, sem sombra de dúvidas, era e continua sendo uma temática central na eclesiologia paulina de forma a ocupar uma boa porção de seus escritos canônicos. Não seria para menos! Se a ferida ao pastor promove a dispersão do rebanho (Zacarias 13:7), então sua saúde agenciará a devida unidade ao mesmo (Mateus 26:32). Assim, o intento apostólico não é outro senão o preparo de uma igreja sadia e segura em meio a uma geração corrompida e corruptora de homens. Para tal êxito ministerial, é necessária, por parte do apóstolo, a devida admoestação a Timóteo acerca das qualificações de um bom ministro de Deus na condução deste santo ofício.

A instrução de Paulo em 2 Timóteo 3:10 requer que Timóteo não se amolde aos perversos de seu tempo, nem tão pouco aproprie-se de suas perversidades. Antes, fundamente-se no próprio modelo ministerial paulino, modelo este no qual o jovem presbítero deve se espelhar. Essencialmente, o padrão requerido pelo apóstolo desenvolve-se a partir de um Arquétipo Sapiencial advindo das Escrituras (2Tm 3:15), pautando-se em três princípios fundamentais: (1) Ortodoxia, (2) Ortopraxia e (3) Ortopatia. Doug Blomberg, em “Wisdom and Curriculum: christian schooling after postmodernity”, define a junção destes três princípios como “wisdom epistemology” ou “epistemologia sapiencial”. Deste modo, segundo Paulo, Timóteo deve ocuparse em observar:

a) ORTODOXIA = “a minha doutrina” – velar constantemente pela sã e correta doutrina;
b) ORTOPRAXIA = “procedimento” – conduta ou comportamento correto;
c) ORTOPATIA = “intenção” – motivação, sentimento ou sensações corretas.

Destarte, adiciona a esta tríade sapiencial Virtudes Teológicas essenciais (verso 10 – “fé”, “paciência”, “amor”, “perseverança”), bem como o testemunho fiel de sua Piedade Devocional (verso 11 – “minhas perseguições” e “aflições”).

Este legado apostólico nunca foi tão valioso e tão necessário em nossa contemporaneidade. Assim, no dia de hoje, em que congratulamos o amado Reverendo Eduardo Nunes por seu aniversário, alegramo-nos e gloriamo-nos ainda mais no Senhor (2 Coríntios 10:17), não somente pela a dádiva da vida que se perpetua, mas também por seu profícuo ministério, e este conjuntamente a Igreja Presbiteriana Missional do Buritis, ambos verdadeiros baluartes da cristandade em tempos e costumes como os atuais.

SOLI DEO GLORIA

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