“Vocês são o sal da terra…Vocês são a luz do mundo.” Já ouviu, viu ou leu este trecho da bíblia antes? É provável que sim. São as palavras de Jesus logo após o episódio narrado de sua história a que damos o nome se Sermão do Monte (ou da montanha) ou As Bem-aventuranças, e me parece que quando lemos estas palavras algo nos consola com força e ânimo. Parece que estamos sendo destacados para uma função nobre de “temperar” o mundo e trazer luz sobre ele. Tudo isso é claro, se consideramos que a palavra vocês quando usada na fala de Jesus está se referindo a um agrupamento de pessoas a qual fazemos parte. Mas atenção, temos que ter muito cuidado verificando tal fala de Jesus porque é provável que a leitura literal, sem aprofundamento e contextualização traga uma interpretação imprecisa que por sua vez pode gerar um perigoso sentimento de separação (nós e eles), e especialidade em relação àqueles que nós mesmos colocamos para fora deste agrupamento.
Precisamos ler todo o capítulo 5 do livro de Mateus para perceber o tom correto da fala de Jesus e o que é que ele quer dizer com esta afirmação. Jesus começa a estabelecer alguns critérios bastante controversos sobre o que faz de alguém um bem-aventurado ou em outras palavras muitíssimo feliz, e Ele faz isso confrontando a percepção e pensamento coletivo social especialmente quando diz que quando fossem perseguidos por causa de Cristo eles deveriam se alegrar e este tom de confronto e estranhamento é que permeia as palavras de Jesus quando diz: “Vocês são o sal da terra…Vocês são a luz do mundo”. Jesus diz estas coisas aos discípulos (v.1-2 / Lucas 6.20) e à multidão que o seguia sabendo que suas palavras trariam desconforto a uma audiência majoritariamente religiosa e que tinha uma maneira de viver e interpretar a bíblia e os profetas de modo bem diferente. E logo após dizer estas palavras ele continua amplificando seu confronto aos ouvintes apontando a eles uma conduta superior aos que eram considerados socialmente exemplos de conduta (v.20), e dá ainda maior gravidade ao citar a Lei e amplificar sua aplicação e seus efeitos. Perceba que o que Jesus está informando é que exemplificando é que toda a sua audiência não está agindo conforme estes preceitos, fazendo com que se tornem indesculpáveis, transgressores, incapazes e indignos de mérito próprio. E não só a audiência de Jesus e colocada nesta condição como toda a humanidade em todos os tempos e épocas, criando em nós um parâmetro comum perante a Lei de Deus e daquilo que seria considerado adequado e aceitável perante a Deus. Mas perceba que mesmo assim ele afirma que estes Bem-aventurados ou muito felizes, são sal da terra e luz do mundo. Depois de tudo isso responda a você mesmo: Você é sal da terra e luz do mundo?
Marcos 9.42-50 nos informa que para sermos e termos sal em nossa vida precisamos mudar nosso comportamento e extirpar ou arrancar de nossa vida nos faz tropeçar fazendo também faz tropeçar os pequeninos de Deus, isto é, nossa falsa superioridade e religiosidade enganosa baseada em tradições e processos que nada tem a ver com Jesus, seus ensinamentos e modo de viver (Lucas 14.25-35). Jesus (“a luz que veio ao mundo” (João 3.19)) também diz que aquele que o rejeita o faz porque ama as trevas. Para sermos luz precisamos estar na luz (Jesus) e sabemos que nem sempre é isso que queremos, porque na luz nossas más obras são reveladas e vemos claramente que nossas boas obras só são realizadas por intermédio de Deus, o que nos obriga a declarar nossa incapacidade e dependência para cumprir este papel.
Seremos sal e luz quando Ele se revelar através de nós por meio da nossa incapacidade, dependência, humildade e ação graciosa. Seremos sal e luz quando através do desconforto e da quebra de nossos dogmas, religiosidade e egoísmo caminharmos para a dependência da Graça e da vida à luz da Verdade que é Cristo. Que a luz brilhe em nós e que sejamos salgados por Ele!