Quem habitará em seu Santuário, ó Yahweh?

É importante observar que o Salmo 15 não é uma receita de como se tornar salvo, mas uma receita de como as pessoas salvas devem viver a fim de não serem abaladas na vida, tendo comunhão com o Deus vivo e verdadeiro. Nesse salmo, há várias qualidades que devem estar pre­sentes em todo tempo e em todas as áreas da vida de um cristão verdadeiro.

No verso 1, o verbo “ha­bitar” quer dizer “permanecer tempora­riamente como um estrangeiro ou hospedar-se”, enquanto “morar” refere-se a viver em caráter perma­nente num determinado local; mas, parece que nesse caso aqui do Salmo 15, é bem provável que os verbos sejam sinônimos. Habitar e morar estão num sentido de alguém desejar ardentemente estar na presença de Deus e desfrutar de sua companhia o tempo todo. De fato, o maior desejo do rei Davi, autor do salmo, era estar com Deus onde ele estivesse, e habitar em sua “casa” para sempre (Salmo 23.6 e 61.4).

O versículo 2 cita três áreas fundamentais da vida de uma pessoa que quer viver da maneira de Deus e permanecer firme até o fim: desenvolver um caráter irrepreensível, uma con­duta reta, e um agir com palavras verdadeiras. Isso tudo está aplicado de modo prático e específico nos versículos 3 a 5a.

O cristão precisa dessas três virtudes básicas. Devemos procurar desenvolvê-las de forma obediente ao Senhor Yahweh em todas as áreas de nossas vidas. Essa é a formula para uma vida segura e feliz.

Primeiro, precisamos ter integridade – um caráter irrepreensível (versos 2a, 4a, 4b). Aquilo que somos determina, em grande parte, aquilo que fazemos e dizemos, de modo que a primeira ênfase é sobre um caráter piedoso. Ser “irrepreensível” não signi­fica ser sem pecado, pois não há pessoa alguma na terra sem pecado. O caráter irrepreensível diz respeito a sua solidez, sua in­tegridade e sua lealdade total a Deus. Quem possui integridade honra os que também são íntegros e que temem ao Senhor, não é enganado por baju­ladores e nem seduzido pelos corruptos.

Também precisamos da honestidade – uma conduta justa (versos 2b, 5a, 5b). As pessoas que praticam a justiça são honestas em tudo o que fazem, e elas esperam sinceramente que se faça justiça na terra. Davi aplicou o principio da honestidade a duas áreas: a cobrança de juros excessivos e o recebimento de subornos. Essas duas práticas eram pecados comuns no tempo do reino de Israel, e os profetas sempre pregaram con­tra ambas. Os israelitas não tinham permissão de cobrar juros de seus compatriotas e os juízes já haviam sido advertidos a não acei­tar subornos. Não é possível haver justiça numa terra onde o dinheiro diz aos tribunais o que se deve fazer.

Por último, ter sinceridade, ou seja, ter palavras verdadeiras (versos 2c, 3, 4c). Se as pessoas conse­guem escapar ilesas a suas falcatruas, então toda promessa, todo acordo, todo juramento, todo compromisso e contrato perdem imediatamen­te sua validade e se tornam mentiras. O falso testemunho transfor­ma um julgamento numa farsa e provoca o sofrimento dos inocentes.

O certo é que, quando a verdade está no coração do crente em Jesus, seus lábios não profe­rem mentiras, não espalham fofocas, nem atacam os inocentes, especialmente pelas costas. As pessoas com um coração sincero e piedoso guardam seus vo­tos e cumprem suas promessas, e não se metem em “conversa fiada”.

A maioria dos problemas em família, entre vizinhos, no ambiente de trabalho e mesmo na igreja decorre de fofocas e de mentiras propagadas pelos que se dedicam a manter as conversinhas sempre em circulação. O Senhor deseja que nosso ser mais in­terior seja repleto de verdade e que amemos e guardemos a verdade; ponto final.

Yahweh é irrepreensível em seu caráter, justo em seus atos e verdadeiro em todas as suas palavras, e ele deseja que os hóspedes em sua casa tenham também essas mesmas características. Por isso o salmista termina esse Salmo assim: “Quem deste modo procede não será́ jamais abalado.” Isso significa que os justos descri­tos no salmo têm segurança e estabilidade em sua vida, e não precisam temer tsunamis, rompimento de barragem, nem outra situação catastrófica em suas jornadas. Deus promete que os justos não precisam temer, pois estão fir­memente fundamentados nas promessas de sua firme e leal aliança.

Como ilustração, lembremos que Jesus encerra o célebre Sermão da Montanha com uma história sobre dois cons­trutores (Mateus 7.24-27) cujas casas (suas vidas) passaram por grandes tempestades. Somente uma delas perma­neceu firme: a vida da pessoa que fez a vontade de Deus, que praticou sua Palavra. A vida de piedade sobre a qual Jesus fala é pa­ralela às características da pessoa piedosa descrita no Salmo 15 e, nas duas passagens, encontramos a mesma promessa: “Quem des­te modo procede não será jamais abalado”.

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