Considero a experiência que teve o nosso irmão, o apóstolo Pedro, narrada no Evangelho de João, capítulo 21 é um dos textos mais lindos das Escrituras. Ali é narrado um encontro decisivo de Pedro com o Cristo ressurreto. Jesus tinha um propósito muito definido em seu coração para tratar com Pedro, seu apóstolo. Antes de falar sobre esses propósitos, gostaria de ressaltar alguns fatos interessantes do texto.

O primeiro deles é a pergunta intrigante de Jesus para Pedro no verso 15: Tu me amas mais que estes outros? Muitos de nós têm a tendência de entender o “estes outros” como sendo os outros discípulos, o que realmente creio não ser o caso, pois conhecendo a estrutura humana como Jesus conhecia, nunca faria comparações. Pessoas são diferentes umas das outras, e esse por certo não seria o caso. O mais provável é que Jesus apontava para os peixes, que no original grego também está no masculino e no plural, fazendo alusão ao impulso de Pedro para retomar sua vida passada de pescador profissional. Jesus queria seu apóstolo completamente comprometido com o Evangelho e seu trabalho de pescar homens.

O motivo pelo qual eu realmente creio que Jesus apontava para os peixes tem a ver com o propósito dele para levar Pedro a compreender melhor os valores do Reino, especialmente sobre verdade. O Mestre queria que Pedro largasse de vez o seu passado, e assumisse o novo chamado com autenticidade e transparência: Tudo pela Verdade.

Pedro, por certo, estava decepcionado com sua pseudo derrota ao negar Jesus por três vezes antes de sua crucificação. Provavelmente muito desanimado e desencorajado com sua falta de postura e perseverança, até mesmo inseguro com a aparente “derrota” do Evangelho. Jesus precisava restaurá-lo, e o fez aos pés dos peixes, dos barcos, das redes, e dos outros discípulos. Coisa linda!

O episódio teve vários objetivos, e dentre eles o de levar Pedro a perceber a importância da perseverança, e da honestidade e transparência. O Mestre queria provar (ou aprovar) o coração de seu discípulo. Quando Deus prova o coração de seus eleitos, ele tem um alvo claro de levá-los à maturidade e aprova-los para o exercício fiel de Sua missão. Devemos nos lembrar de que Deus somente prova corações já aprovados. Nenhuma prova se nos é dada sem a certeza de Deus da nossa vitória, é o que diz o apóstolo Paulo (1 Coríntios 10.13).

Creio que outro objetivo era o de dar oportunidade para reflexão para que mudanças fossem geradas. Só haverá mudanças genuínas quando há perseverança, fé e coragem, e tudo pela verdade. Apesar de serem traumáticas, as mudanças geram crescimento e amadurecimento nas pessoas que estão dispostas a enfrentar a dor do crescer; e Cristo sabia disso.

Um último aspecto que gostaria de ressaltar é que Jesus queria que Pedro compreendesse os valores do Reino. O discípulo ainda não havia percebido a grandeza de seu chamado. As redes e toda a sua vida pregressa já não podiam ter o mesmo valor, comparadas aos valores eternos do Reino de Deus. Era necessário que Pedro desse provas reais, não só de palavras, de seu amor genuíno pelo Cristo e seu Evangelho. Pedro naquela madrugada, talvez pela primeira vez, se mostrou autêntico, honesto, verdadeiro para com o Mestre, que o recomendou para o serviço da Causa, mesmo com sua fragilidade humana.

Tu me amas mais que estes outros? Essa é a pergunta que Jesus também nos faz no tempo de hoje. “Estes outros” precisam ser deixados para trás, e com perseverança, coragem e fé no coração, precisamos buscar servir o Reino com transparência e verdade, assumindo nossa vocação de cumprir a missão do Eterno. Amém.