No primeiro século, nascedouro da igreja, nossos irmãos, os primeiros cristãos, eram conhecidos como “os do Caminho”. Eles caminharam uma jornada, foram peregrinos e, com seu estilo de vida anunciaram a nova vida, o renascer, um modo de vida na contramão de sua cultura e sociedade, acreditaram na possibilidade de um mundo melhor. Com Jesus adquiriram raízes, eram radicais até a morte, raízes que os mantiveram firmes nas adversidades inerentes ao caminho. Corajosamente viviam a palavra, os ensinos do Cristo, a vida nova e o Senhor se faziam conhecidos através deles.
Na antiga aliança também existiram muitos caminhantes. O escritor (ou escritores) aos Hebreus registrou a respeito de homens e mulheres que também foram peregrinos (Hb 11.8-16) e buscaram um mundo melhor, uma nova pátria prometida por Deus. A intensidade da nova vida em Cristo vivenciada no início da igreja refletia o primeiro compromisso, a aliança com nossos pais Abraão, Isaque e Jacó. Homens e mulheres que, no Caminho, enfrentaram o inesperado, todo tipo de contratempo e adversidade, mas também sorriram, explodiram de alegria diante do cuidado de Deus.
Em dias da atualidade experimentamos os efeitos de uma estrutura social e econômica baseada no descartável e efêmero. O sociólogo Zigmunt Bauman se refere ao nosso tempo como “Vida Líquida” e diz que o amor, os relacionamentos profissionais e afetivos, a segurança pessoal e coletiva, o consumismo material e espiritual, a busca pelo conforto humano e o próprio sentido da existência são líquidos, descartáveis, não concretos, onde o desapego predomina; a incerteza, cotidiana e a vida, um constante do eterno recomeço. A virtualidade é o maior exemplo disso. Quantos se refugiaram atrás de contatos frios e impessoais do “mundo virtual” e se esquecem do calor das relações, do olho no olho, dos afetuosos toques, da vida!
Cora Coralina escreveu que “O que importa na vida não é o ponto de partida, mas a caminhada. Caminhando e semeando, no fim teremos o que colher”.
A caminhada cristã “anuncia o nosso estilo de vida”. Jesus não tinha onde reclinar a cabeça. Esse despojamento que vemos no filho de Deus nos constrange e nos desafia diante da falsa segurança que tanto procuramos com um estilo de vida inconsequente e consumista, praticamente um suicídio coletivo. O atual egoísmo social não combina com nova vida em Cristo Jesus.
A solidariedade é característica inerente à nova vida. Caminhando Jesus “viu a multidão e teve compaixão”. Jesus sofreu ao ver homens e mulheres longe do propósito de Deus de vida em abundância. Não podemos ser indiferentes aos diversos tipos de sofrimentos humanos.
No Caminho o Reino deve ser anunciado e também instrumento da denuncia do pecado individual e coletivo. A vida em abundância é um contraponto as forças da morte presentes em muitos aspectos da nossa vida econômica, social, política e religiosa.
Na jornada devemos nos envolver, nos comprometer na busca da restauração de todas as coisas. A busca egoísta pelo conforto não combina com o esforço no estabelecimento do Reino de Deus, Reino de justiça, paz e alegria para todos.
Caminhemos, no Caminho!
Rev. Jorge Eduardo Diniz