É bom notar que, nos primeiros versos de Gênesis 1, a criação ex nihilo (a partir do nada) é ensinada, uma vez que nenhum material preexistente é mencionado ou implícito quando Deus cria o universo. Contudo, para o ser humano, a matéria usada é o barro e o sopro divino. O Eterno Deus, então, cria o homem à Sua imagem e conforme a sua semelhança – isso é lindo! O verbo usado em Gênesis 1.27 indica uma magnífica, nova e marcante criação, diferente das outras coisas criadas. De todo o universo criado e todas as coisas nele, Deus estabeleceu um relacionamento especial somente com os seres humanos. A Bíblia identifica o Varão e a Varoa como o primeiro homem, cujo nome dado por Deus foi Adão, ou Homem, conforme Genesis 5.2. Eles, desde o início, desfrutaram de um relacionamento consciente, pessoal e significativo com Yahweh, pois foram criados, macho e fêmea, à semelhança e imagem dele.
Deus criou homem e mulher perfeitos e sem pecado, e proporcionou um ambiente perfeito para viverem. Eles tinham a capacidade de desfrutar de um relacionamento pleno, significativo e desimpedido com o Criador, e com eles mesmos. Deus pretendia que o homem e a mulher vivessem em mútua harmonia com ele, e um com o outro, em um ambiente que respondesse positivamente ao domínio do casal – a terra iria produzir pelo cultivo e trabalho deles. O macho e a fêmea foram criados pelo ato do extremo amor divino para desfrutar da plenitude de Deus.
Interessante é que o Criador dá ordens para que a natureza o obedeça e produza todo tipo de vida (Gênesis 1.11, 20, 24), contudo para o ser humano ele diz no verso 26: Façamos! Somos feitura de Suas mãos! O que torna o homem especial é que, somente ele, foi criado à imagem de Deus. E é importante ressaltar que toda a semelhança que Deus colocou nos seres humanos permanece até hoje, mesmo obscurecida após a queda e o pecado. Continuamos refletindo a imagem e semelhança do Deus triúno, todos nós, macho e fêmea!
A questão então pode aparecer: “Qual é a “imagem” de Deus” que herdamos na criação? Esse assunto tem sido debatido por muitos anos. Creio que a imagem de Deus no homem na Criação pode estar ligada ao fato do homem ser alma vivente (Gênesis 2.7), isto é, uma criatura pessoal, autoconsciente, semelhante ao Deus Trino, e com uma capacidade divina para conhecimento, pensamento e ação. No homem, encontramos um ser com capacidade moral, uma qualidade “perdida” na Queda, mas que agora está sendo progressivamente restaurada em Cristo (Efésios 4.24; Colossenses 3.10). Também, ao homem foi dada a capacidade de gerenciar a criação, algo próprio do Criador. Ainda podemos acrescentar que a imortalidade da alma, parte de nossa estrutura, é algo que também nos assemelha a ele. E sermos criados à imagem de Deus significa que, nós humanos, temos a habilidade e o privilégio de conhecer, servir e amar a Deus.
Preciso ressaltar que, mesmo desfigurado após a queda, o homem ainda reflete suas origens divinas. Ele, em sua totalidade, reflete a decisão do Deus Trino de plantar naquela criatura específica algumas características que melhor poderiam expressar a Sua própria natureza. A imagem ou semelhança é algo que nos remete ao plano original do Criador, que “carimbou” a humanidade com Seu reflexo para chamar a atenção somente para Ele mesmo. E somos nós, os seus semelhantes, que recebemos capacidades relacionais especiais, diferentes de todos os animais e de toda a criação. Deus nos criou para Si mesmo e somente a nós foi dada a condição ímpar de nos relacionamos plenamente com ele.
Deus comunica um desejo intenso de conviver conosco. Há uma intensa relação de amor desde o início. Parece que, assim como Deus desfruta de uma comunhão perfeita dentro da trindade, Ele projetou o homem para entrar nessa mesma comunhão para com Ele, e uns para com os outros. Há então uma conexão vital entre Deus e o homem, e o homem e o homem, e o homem e Deus. Fomos projetados para estar conectados, para viver em comunidade, e em amor. A queda e o pecado trouxeram ruptura para aquele plano, mas o projeto original nos convida a vivermos numa comunidade maravilhosa, uma família conectada e repleta de felicidade, mesmo obscurecida com a entrada do pecado.
Enfim, o projeto inicial de Deus é para que experimentemos dele, de sua essência, à medida que caminhamos. Nós, aqueles que conhecemos o verdadeiro Deus, somos convidados a vivê-lo com intensidade e verdade, mostrando ao mundo que há esperança e que o amor de Deus continua ativo e vivo através de nós, seus semelhantes.
Que Yahweh nos ajude a refletir esse amor do plano original a todos ao nosso redor.