Muitas vezes ao ler a Bíblia nos deparamos com uma série de afirmativas e falas um tanto quanto “estranhas” e difíceis de entender por nos parecerem contraditórias e se você prestar atenção este fenômeno acontece com muito mais frequência do que percebemos. Isto porque muitas vezes já acostumados a ouvir e ler determinados trechos não mais estranhamos a sua natureza contraditória, aos nossos ouvidos soa como algo…comum. A maioria destes fenômenos damos o nome de paradoxo. De modo bem básico esta palavra representa de seu derivado grego (paradoxon) algo que é “contrário a opinião” ou ainda “contrário ao senso comum”.
A esta altura você já deve estar se perguntando qual é a importância disso? Vale a pena falar sobre isso?
SPOILER ALERT! Que significa: Vou contar um pouquinho do final agora no início!
Este assunto tem importância fundamental, e pode nos ajudar a mudar a nossa perspectiva sobre o modo como vivemos, mas vamos devagar.
É bastante sedimentado entre a filosofia que o paradoxo não só confronta a opinião como também revela um ponto de vista e sua verdade.
Para dar um exemplo mais claro disso, vamos ao texto onde Jesus explica aos discípulos porque Ele muitas vezes falava por meio de parábolas (Lucas 8.10) e ele cita o profeta Isaías dizendo: “vendo, não vejam; e ouvindo não entendam”. Percebem o paradoxo? Vemos dois outros exemplos em Lucas 17.33, quando Jesus responde aos fariseus a respeito do Reino de Deus e dentro desta explicação diz: “Quem tentar conservar a sua vida a perderá, e quem perder a sua vida a preservará.” E em Lucas 9.24 Ele diz a mesma coisa enquanto dá instruções sobre o que devemos fazer para se tornar seu discípulo (v.23). Parece uma ideia sem nexo e fica claro que uma leitura sem cuidado, literal ou medrosa irá rotular de forma errada as falas e citações de Jesus como sem sentido, mas, com o devido contexto e estudo começamos a perceber que existem nelas verdades que confrontam e revelam uma nova perspectiva.
Falando sobre João Batista, Jesus diz que “…o menor no Reino de Deus é maior que ele.” Um paradoxo difícil, que só pode ser entendido a partir da realidade do controle de Deus sobre o universo. Difícil?
Olhem bem para um dos fundamentos de nossa fé em Cristo “O Salvador que nos dá vida através de sua morte”, percebe? Veja que este paradoxo além de ser uma verdade é o que nos dá condição de começar a entender quem é nosso Deus. É na comparação destes extremos que nos chocamos com a realidade proposta pelo paradoxo. Sem o paradoxo e o choque por ele causado teríamos um entendimento muitíssimo mais raso sobre por exemplo, esta realidade da cruz.
Deus trabalha com os paradoxos bíblicos para nos dar uma perspectiva mais ampla e transformadora daquilo que de fato é verdade e realidade.
Pensem sobre a própria pessoa de Cristo; o Rei Soberano que assume a forma de servo para dar a sua vida em serviço (Filipenses 2.5-8). Quer maior paradoxo? Onde vamos encontrar maior confrontamento em relação à nossa própria atitude? Como dizer “a alegria do Senhor é a nossa força” (Neemias 8.10) sem entender profundamente o paradoxo que confronta nossa realidade? Como entender a reação dos discípulos de Jesus em Atos 5.41 que sentiram alegria após serem açoitados?
Todo o incomodo que estas perguntas nos geram, toda a inquietude, todo o choque de realidade não pode simplesmente ser deixado de lado ou ignorado. Precisamos saber que cada palavra em sua devida ordem é proposta como uma engrenagem do relógio de um mestre relojoeiro, cujo funcionamento perfeito é sincronizado com Sua vontade e poder, e se em nossa caminhada nos deparamos com estes sentimentos podemos saber que é parte da execução de um plano perfeito.
Os paradoxos propostos na Bíblia são grandes instrumentos de Deus para a mudança, confrontamento e criação de uma nova visão a partir da verdade revelada por eles, nos impulsionando a buscar mais de Sua Palavra e assim recebendo nova revelação de quem Ele é.
Que seja assim em nossas vidas! Amém!