O ESPERAR NÃO PODE DIMINUIR A ESPERANÇA

Para falar de esperança, precisamos definir com muita clareza o que é que esperamos. Quando esperamos, apontamos para o futuro. Quando pensamos no futuro dentro do contexto religioso, gosto de acreditar que, de modo coletivo, pensamos especificamente na volta de Jesus como nosso mote de esperança. E, para falar sobre essa nossa esperança, precisamos alinhar o que esperamos com o que de fato deveríamos esperar. O que Jesus preparou e tem preparado para nós no momento de sua vinda deveria ser algo que ansiamos com muito vigor, mas não deveria ser pelos mesmos motivos que, por exemplo, o povo judeu aguardava (e ainda aguarda) o Messias. Veja que, para o povo judeu, o Messias viria com uma proposta política visível de afirmar a supremacia de Deus em uma condição de se estabelecer o poder dominador sobre as nações e acabar com a “injustiça” e a maldade. E precisamos

estar muito atentos a respeito daquilo que esperamos, para que não venhamos a confundir a volta do Mestre com este mesmo desejo de condição  supremacista e finalista. A volta de Jesus, mais que certamente, seguirá o mesmo modelo de processo e conduta que ele mesmo estabeleceu

em sua primeira vinda. Jesus não vem ao mundo para satisfazer a esperança judaica; Ele vem estabelecer seu Reino de paz, perdão e Graça em uma condição de relação horizontal e não vertical nas relações de poder. Ele vem resgatar e não exterminar. Ele vem dar aos pecadores de coração contrito a vida com o seu amor e não os condenar por sua má conduta (Lucas 9:55-56).

Se olharmos para a esperança dos judeus e seus religiosos em relação a Cristo, sua esperança foi completamente frustrada. Precisamos, então, a partir daquilo que Cristo ensinou sobre ele mesmo, seus propósitos e conduta,

realinhar nossa esperança a partir da palavra que já recebemos e não a partir de uma visão religiosamente distorcida sobre o plano de Deus para nosso mundo. Se não queremos cometer o mesmo erro daqueles que esperaram um imperador político, precisamos saber quem é o Jesus revelado pelas Escrituras, porque certamente será ele mesmo que irá voltar. Afinal, ele é o mesmo ontem, hoje e eternamente (Hebreus 13:8), e seu olhar sobre o mundo e seu modo de agir no momento de sua volta (que é a nossa esperança) não

vai mudar. Quando Jesus apresenta seu Reino à mulher samaritana no poço de Jacó, ele demonstra a ela que este Reino já havia chegado e que a esperança de resolução do conflito — onde se deve adorar — não seria solucionada de acordo com sua expectativa (João 4:23-24). De fato, Jesus

demonstra que sua ação e seu Reino são de outra natureza, frustrando a expectativa religiosa criada por uma leitura literal e triunfalista do cânon judaico. Esperar em Cristo é caminhar como ele caminhou! Ter esperança em sua volta é ter esperança em um resgate massivo de pecadores e excluídos, e não uma condenação daqueles que são diferentes e desconhecidos por nós.

Ter esperança em sua volta é ter esperança de que nosso coração será quebrado e mudado para sermos caminhos de sua Graça e Amor ao mundo, e não que seremos colocados como juízes praticantes de uma cruel condenação ao mundo. Nesse sentido, precisamos entender que a volta de Cristo já se iniciou na inauguração do seu Reino de Graça e Amor, que se revela através

das vidas que se rendem ao seu irresistível chamado para participar deste mesmo caminho que ele percorreu e que irá se completar no dia de sua segunda vinda. O esperar não diminui a nossa esperança porque essa espera é o nosso caminhar como Jesus caminhou. Pecadores quebrados que subvertem a lógica do triunfalismo totalitário e político, dando protagonismo à Graça de Cristo que vai avançando nos corações daqueles que entendem

que de nada mais precisam a não ser dela, fazendo assim com que o Reino cresça e se estabeleça no fértil solo dos corações que ele mesmo tem preparado. Que nos coloquemos alinhados com a esperança em Cristo e, sem desanimar enquanto esperamos a sua volta física, vejamos sua volta

se manifestando nos corações daqueles que ele mesmo chamou!

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