Cheio de significado o domingo que antecede a páscoa tem importância histórica aos cristãos, sendo o relato encontrado em todos os evangelhos. Nesta data revisitamos a Entrada Triunfal de Jesus em Jerusalém, na tentativa de entender e resgatar do significado coletivo o que deve, ou pelo menos deveria, ser importante individualmente. Se pensarmos superficialmente, talvez este episódio nos traga um glorioso sentimento de triunfo (ainda que temporário) do Rei dos Reis frente ao plano dos fariseus que pretendiam matá-lo logo após Lázaro ter ressuscitado (João 11.53), e a frustração de ver que apesar de seus esforços, o povo o adorava (João 12.19). Meu convite para você é que deixemos de lado este sentimento, pois ele tem pouco ou quase nada a ver com aquilo que é principal, central, ou com o que de fato devemos perceber do texto bíblico. Temos como princípio hermenêutico (de interpretação) em nossa caminhada com a missionalidade, apontar toda leitura bíblica contra nós mesmos, ou seja, ler a Bíblia procurando em cada texto a revelação de quem somos e de quem Deus é. É utilizando esta ferramenta que leremos o texto de Lucas 19.28-40.
Antes de ler o texto é importante perceber o contexto em que a narrativa se desenvolve. Jesus tinha ressuscitado Lázaro, e este episódio aumenta ainda mais sua fama e intensifica a perseguição dos religiosos judeus, a ponto de consentirem matá-lo. Outra coisa importante, é lembrar que Jesus conhece as pessoas e os corações, portanto ele não é pego “de surpresa” pelo argumento, fala de alguém ou ainda, age por impulso quando determinada situação se apresenta. Ele mesmo provoca as situações, falas e reações em TODOS, e isto se torna mais evidente quando vemos os escritores dos evangelhos utilizando a frase: “Isso aconteceu para que se cumprisse o que fora dito pelo profeta…”. Esta fala, indica não só que o ocorreu já havia sido predito pelos profetas, portanto planejado por Deus, mas também mostra o TOTAL e irrestrito controle de Deus, e por extensão de Jesus, na execução do Plano Divino. É isto exatamente o que o evangelho de Mateus (cap 21 verso 4) nos relata.
Lendo o texto é possível perceber que Jesus sabia o que iria acontecer. Ele pede a dois de seus discípulos que vão à frente, preparem sua montaria e descreve com detalhes o que encontrariam, incluindo o que seria dito a eles e quais seriam suas respostas (Marcos 11.5-6). Intencionalmente monta o cenário previsto pelo profeta Zacarias (Zacarias 9.9) e entra na cidade montado no Jumentinho para paradoxalmente ser tratado como Rei e revelar sua essência humilde. Só para lembrar, estamos falando aqui sobre o Rei do universo.
Jesus sabia que muitos daqueles que estavam o adorando (Lucas 19.38) utilizando salmos (Salmo 118.23), dizendo que ele era a salvação do povo (Mateus 21.9) e estendendo seus mantos e ramos de palmeiras (João 12.13), conforme o costume romano de reconhecimento e honra a seus imperadores, seriam os mesmos que pediriam sua crucificação dias depois.
Lendo isto é bem provável que sejamos tomados pela pergunta: Por que Jesus deixou isso acontecer?
Por mais que esta pergunta seja “legitima”, só poderemos responder se conseguirmos de verdade assumir que o que mais nos incomoda é a hipocrisia do povo sendo revelada. Utilizando a ferramenta de interpretação de maneira correta, vamos enxergar que este apontamento paradoxal nos colocará no lugar do povo, e assim perceberemos que a hipocrisia é nossa.
A entrada Triunfal de Jesus nos revela não só que de fato esperamos de um rei das nossas expectativas pessoais, mas também qual conduta esperamos que os outros tenham em relação a este rei.
Devemos perceber que o pedido dos fariseus a Jesus (Lucas 19.39) revela em muitos casos nossa ação de controle religioso em relação ao plano implacável de Deus de se revelar ao mundo.
Ler o texto, interpretá-lo e mudar nossa conduta controladora é o que devemos fazer a medida Ele, o Rei dos Reis, entra e se revela triunfalmente em nossas vidas. Que a cada dia sejamos encontrados por ele como menos hipócritas e impedidores de sua revelação ao mundo.
Vamos adorar e salmodiar ao Rei em sua ascensão Triunfal ao centro de nossa existência!