Se fosse possível fazer uma pesquisa de opinião com os habitantes do planeta terra, perguntando como percebemos a vida, talvez a maioria deles diria
que nós estamos passando por momentos difíceis e muito provavelmente eu e você também. Apesar de saber que as “realidades” do ser humano são muito
diferentes em cada parte do mundo e que o que eu particularmente chamo de “momentos difíceis” em outra parte do mundo pode ser considerado como
ideal de paz e alegria, existe um sentimento comum em relação à existência da maldade e a falta de amor e compaixão. Esse sentimento normalmente
desperta nos cristãos uma imediata referência ao “fim dos tempos” e ao apocalipse (tanto o livro quanto o evento), e isso não é algo exclusivamente atual ou moderno. Igrejas cristãs, desde a que chamamos de “primitiva” (igreja fundada pelos apóstolos de Cristo) anunciam a certeza da volta de Cristo ainda em sua geração. Passando pela perseguição da igreja dos apóstolos no livro de Atos, passando também por Constantino até o fim da igreja-estado, da inquisição às cruzadas, do período entre a primeira e segunda guerras mundiais com os regimes de Mussolini e Hitler, ou do período da guerra fria (EUA – URSS), chegando ao conflito entre Rússia e Ucrânia, a igreja cristã manifestou sua impressão de que o fim dos tempos era agora. No meio disso a busca pela precisão da interpretação profética (Profetas, Jesus e o Apocalipse de João) criaram distintas visões sobre a condição escatológica (do fim dos tempos), criando até o momento 4 escolas de pensamento interpretativo sobre os escritos proféticos (Pósmilenismo, Amilenismo, Pré-milenismo histórico e
Pré-milenismo dispensacionalista). Em nossa comunidade (Missional do Caminho), temos uma tendência e ligação particulares à visão amilenista que entende ainda que de forma resumida, que os escritos proféticos não são literais, que a natureza do Reino de Cristo é espiritual e que a igreja já passa pelo seu período de tribulação. Nada disto, entretanto, pode ou deve excluir ou atrapalhar nossa percepção do que de fato significam as profecias e promessas escritas e qual o seu significado. Precisamos ter consciência de pelo menos duas coisas: 1- Qual a motivação nos leva a buscar tais profecias. 2- Qual a intenção divina na entrega dessas profecias. Um olhar para a história mundial pode ser uma ferramenta muito importante para verificar e descobrir nossa real motivação ao buscar com tanto afinco as previsões proféticas. Na história da igreja os momentos de maior sofrimento, perseguição e oposição geraram uma reação dos púlpitos e a vocalização da célebre sentença “O fim está próximo”. Junto com essa ideia o sentimento de busca por uma justiça que elimina opositores e de uma transformação social com que institui a igreja
vitoriosa como a “julgadora” do mundo, está claro nos escritos deixados pelos cristãos que viveram estes tempos. Percebo também que boa parte da
igreja atual compartilha deste sentimento; talvez nós mesmos o compartilhemos. Mas será que essa é a intenção de Cristo ao nos entregar as profecias? Ao ser questionado pelos discípulos sobre o fim dos tempos e a respeito de sua volta (que ainda não entendiam muito bem) Jesus inicia sua resposta dizendo “Cuidado para que ninguém os engane.” (Mt 24.4 NVI) deixando muito claro desde o início da sua fala que sua preocupação era diferente da preocupação dos discípulos que estavam mais preocupados com “o dia da glória”. Jesus explica durante todo o capítulo 24 de Mateus que sua
maior preocupação era a de que os discípulos não fossem enganados e de que o resultado disso fosse uma modificação de seus ensinamentos de Amor
e Graça. A preocupação nítida de Jesus era de que as características ensinadas por ele aos seus discípulos não fossem perdidas ou abaladas por
conta das situações. Simples assim! Observe se não é o mesmo conteúdo de João no livro de Apocalipse dizendo às igrejas: “Ao vencedor darei o direito de
comer da árvore da vida….” (Ap 2.7), “O vencedor de modo algum sofrerá a segunda morte.” (Ap 2.11), “Ao vencedor darei do maná escondido.” (Ap 2.17).
Se reconhecermos nossa torta motivação e ajustarmos nosso caminho em direção àquilo que Ele mesmo já nos deu, Amor e Graça, a intenção de toda profecia será cumprida em nós. Precisamos entender que o objetivo da profecia nunca foi nos revelar o futuro; sempre foi nos alertar para que não
sejamos enganados e com isso nos mostrar quem de fato está no controle do universo. Um Deus que criou o universo não tomaria as rédeas de sua própria
criação? Não nos deixemos enganar! Recuperando o Amor e a Graça de Cristo como principais motores de nossa vida cotidiana, caminhemos com confiança
sob a certeza de que quem deveria estar no controle de nossas vidas e de todo o universo, nunca deixou de estar. Que as circunstâncias de nossas histórias
e os eventos de nosso mundo não nos desviem da missão dada pelo Mestre.