José no Egito – O Deus que se revela gracioso

As histórias da bíblia por muitas vezes soam os nossos ouvidos como fábulas ou roteiros de filme, que a princípio nos ensina que o herói ou heroína vencem seus desafios com virtude, mantendo sua moralidade é caráter sempre intactos e bons e elevando ainda mais a admiração dos espectadores (nós), e ao mesmo tempo criando um alvo a ser alcançado e(ou) um totem, não é mesmo? Bom, pelo menos comigo é assim. Fui ensinado por flanelógrafos (acredito que a maioria dos leitores deste texto não saiba o que é isto) a admirar e encorajado a imitar os “heróis” da fé e a não desanimar perante aos desafios e derrotas; nas entrelinhas o que era implícito em cada fala e no modo como as histórias eram contadas era que as virtudes e escolhas de caminhada destes heróis os fizeram alcançar o sucesso no final.

Mas a vida rapidamente nos ensinou que as falhas de nossas “virtudes” e escolhas tornariam a busca pela materialização destes heróis em nós virtualmente impossível, muitas vezes trazendo desânimo para nossa caminhada e outras tantas mentindo para nós mesmos definindo raros momentos de demonstração de caráter e virtude como padrão para nos definir aos olhos dos outros, mesmo sabendo que estes momentos raros são rapidamente ofuscados pela irreversível verdade de quem de fato somos, o que nos dois casos pode causar em nós (se é que não causou) problemas graves em nossa relação com Deus e com o outro.

Será que existe solução? Para quê estas figuras heroicas bíblicas foram documentadas? Onde nos encaixamos? Deus escolhe como seus vencedores abençoados heróis que não podemos ser ou alcançar?

Percebem a angústia que tais perguntas trazem?!?!

Hoje olhando para história de José (filho de Jacó, ou Israel) quero propor um panorama diferente sobre a construção deste herói bíblico. Se formos bem sucedidos, talvez alguns destes questionamentos possam mudar ou até o modo como nos aproximamos deles (os heróis da fé) e os percebemos se transformem em histórias possíveis, tirando a angústia, a mentira e nossas próprias máscaras.

Na porção da história de José que leremos (Gênesis dos capítulos 38 a 41), alguns detalhes importantes precisam ser verificados e examinados. O primeiro deles é o fato recorrente da repetição bíblica da frase “O Senhor estava com José” (Gen 39.2-3,21,23) pelo menos 4 vezes no capítulo 39 e devemos perceber esta repetição bem clara do autor como um anúncio de que os eventos que seguiriam a esta afirmação não são decorrentes de algum mérito de José e sim da vontade voluntária de Deus e a força deste argumento só aumenta quando olhamos para o passado de José até então e o futuro que o aguardava. Até sua entrada como comandante-administrador do palácio de faraó ao revelar o sonho é ato voluntário independente vindo do próprio Deus como José mesmo declara! (Gen 41.16). Perceba a ênfase do texto em dizer que o pedido de José ao chefe dos copeiros do rei (Gen 40.14) “…lembre-se de mim e seja bondoso comigo; fale de mim ao faraó…” foi completamente ignorado e esquecido (v.23), isso acontece para reforçar que é o próprio Deus que traz à memória deste homem a existência de José que também não teria sido notado por Potifar (Gen 39.3) se a percepção não tivesse sido dada pelo próprio Deus. Até mesmo a simpatia do carcereiro por José foi entregue por Deus que tratou a José com bondade conforme o versículo 21 do capítulo 39 nos informa; e foi o próprio Deus que fez com que José tivesse êxito naquilo que fazia (v.23).

Amigos e amigas, percebam que não é de José ou de suas ações e escolhas que vem o seu “sucesso” na jornada. Todos os saltos dados nada tiveram a ver com seu comportamento, ações ou virtudes e se há algo que seus atributos físicos lhe trouxeram foram problemas (v.6 e 7), sem nos esquecer é claro de que é o próprio Deus que o dá.

Percebem que olhando desta forma todas as perguntas colocadas inicialmente são respondidas ou apenas desaparecem em seu contexto?

Precisamos nos aproximar da história de José a aprender que o contexto do texto é a ação completa e unilateral de Deus que derrama Graça sobre uma vida que com seus privilégios e percalços, que ganha a oportunidade de ter seus defeitos absolutamente ofuscados (não eliminados) pelo poder da ação de Deus nele como instrumento de sua vontade.

Não é sobre José e os heróis da fé e sim sobre a obra irreversível, irrevogável, unilateral e independente de Deus sobre as vidas que ele utiliza como instrumento, revelando salvação e apontando para sua obra completada em nossas vidas por intermédio de Cristo.

Heróis da fé? Se nos fazemos instrumentos humildes de sua revelação ao mundo, conscientes de que não há em nós virtude ou capacidade em nenhuma área de nossas vidas (passado, presente ou futuro) que nos faça como tais, já o somos!

Lembrem-se: “Com grandes poderes vêm grandes responsabilidades”!
(Frase criada por Stan Lee criador do Homen-Aranha, dita pelo personagem Tio Ben).

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