Cada vez mais se reforça o meu convencimento de que nós que somos religiosos, temos recebido da prática religiosa e da dogmática um poderoso anestésico que nos impede de ver a Graça de Cristo e sua maravilhosa ação no mundo. Para começar apontamos para as coisas boas que fazemos com orgulho e justificamos as coisas ruins que fazemos, vivemos e negligenciamos como responsabilidade de outros (por vezes até mesmo de Deus), com o objetivo de criar para nós mesmos a autoimagem de puros e bondosos e ao menor sinal de problemas ou situações que podem destruir este conceito queremos encontrar justificativa em qualquer outra coisa que nos afaste de condenação. Ficamos tão especialistas nisso que é comum falarmos a nós mesmos frases como “só Jesus foi perfeito”, em situações de erro próprio ou até “Deus deve estar trabalhando na vida da pessoa”, quando vemos alguém em situação difícil na vida. Não há mentira nessas afirmações, mas elas revelam que, há um afastamento gigantesco do problema ou situação juntamente com uma autojustificação que nos tira de qualquer responsabilidade. Se você parar para analisar, ficamos cada vez mais especialistas em nos separar destes eventos e anestesiar nosso coração de qualquer sentimento que nos empurre em direção a uma ação, seja ela qual for. Se parássemos por aí, já seria ruim, mas sempre encontramos uma maneira de descobrir novos níveis de maldade para nos tirar de situações “desconfortáveis” a ponto de difamar, minimizar e desacreditar aqueles que fizeram o que deveríamos ter feito. Exemplo: Se dizemos a nós mesmos “só Jesus foi perfeito” quando erramos, mas vemos alguém assumindo a culpa e pedindo perdão em uma situação exatamente igual, ficamos indignados e por vezes tentamos transformar para nós mesmos e para os outros o pedido de perdão em algo ruim, por vezes dizendo “está querendo aparecer!’ ou ainda “pedir perdão depois do erro é fácil!” fazendo com internamente a ação do outro que retira nossa autojustificação e nossas desculpas seja substituída por uma sensação de superioridade. Em João 9 Jesus cura um cego de nascença e por todos os lados nesta história vemos uma sucessão de tentativas de autojustificação e fuga, começando pelos discípulos, passando pelo povo, atingido a família e indo até os fariseus. Em uma sucessão de eventos a cura do cego gera revolta, indignação, afastamento e transforma o ambiente em caos e tensão. Como pode o bem gerar isso? Em sua primeira carta Pedro diz “Antes, alegrem‑se à medida que participam dos sofrimentos de Cristo, para que também, quando a glória dele for revelada, vocês exultem com grande alegria.” (1 Pe 4.13) ele diz isso para que todos os que se querem a seguir a Cristo saibam que não há reputação ou currículo próprio que não serão atingidos no caminho de Sua Graça. Tudo aquilo que impede o tratamento
de Cristo para nossas vidas e ofusca a revelação do caráter dele em nós precisa ser retirado para que a luz Dele brilhe nos momentos de escuridão. É em João 9 Jesus declara ser a luz do mundo e mostra que a sua luz trás toda maldade à tona para que sua bondade seja a ponte de salvação daqueles em necessidade (aqui leia você). Sem a luz de Cristo sobre nossas mentiras e desculpas não há tratamento para nossa cegueira. Sem a luz de Cristo não há mudança em nós. E saibam que COM a luz de Cristo não há reputação ou currículo que fique de pé e para aqueles que são dele isso não deveria ser um problema, antes deveria ser condição primordial. Se sabemos que é Cristo em nós brilhando a medida que diminuímos e Ele aumenta, como é que queremos passar intactos e ilesos neste processo? Quando o bem nos incomodar precisamos nos despir dos anestésicos da autojustificativa e da superioridade de nossa religiosidade, porque sabemos que quando o bem é feito, vem Dele e somente Dele. “Ninguém é bom, exceto um, que é Deus” (Lucas 18.19). Oramos: Deus nos mostre sua luz para que ela nos ilumine, nos transforme e a partir de nós todo o mundo. Amém!