O Capítulo 26 de Mateus anuncia alguns eventos que marcaram a paixão de Cristo. Só para contextualizar, Jesus já está em Jerusalém para a celebração da Páscoa, e faz alguns discursos que incomodam a liderança religiosa da cidade. Decidiram, assim, mata-lo, mas aguardariam o final das festas para não causar tumulto entre o povo.
Os planos dos homens não determinam os planos eternos do Deus eterno, portanto, Jesus “antecipa” os planos dos sacerdotes e líderes religiosos e provoca sua sentença. Judas Iscariotes, talvez já desapontado com falta de rigor de Jesus para com as finanças do corpo apostólico, decide entrega-lo aos judeus pelo mesmo preço que se pagava por um escravo. E assim foi.
Mas antes que isso acontecesse, Jesus também antecipa a celebração da Páscoa com seus discípulos para quinta feira, para que ele mesmo fosse o cordeiro pascal daquela sexta feira. Depois de cear com seus amigos, na narrativa de Mateus, ele vai ao jardim de Getsêmani para orar, pois estava muito ansioso com o que haveria de acontecer com ele.
Dois eventos acontecem naquele jardim: a oração angustiante de Jesus (v.v.36-46) e sua prisão (v.v. 47- 56). O mistério da paixão de Cristo está fundamentado nestes dois eventos. Com a oração de Jesus a preparação para a cruz termina, e com a chegada de Judas, se dá início ao sofrimento de Cristo rumo ao Gólgota.
A oração dele nos ensina algumas lições sobre nossa humanidade e a completa identificação do Mestre para conosco e nossos dilemas. Observe bem: Primeiro ele chama seus discípulos para orar, pois estava muito triste; ele leva consigo para o lugar mais alto somente Pedro, João e Tiago. Interessante que o mesmo grupo que acompanhava Jesus por muitas experiências importantes, agora passa com ele os seus últimos momentos antes de sua crucificação.
Lá no Getsêmani, com Cristo, eles presenciaram a dor e a angustia do Filho de Deus, exposta não somente para aquele trio privilegiado, mas também para toda a humanidade. Eles foram chamados para testemunhar da grandeza da encarnação, da profunda identificação de Jesus com a realidade humana.
Sua oração expressa um misto de fragilidade e ao mesmo tempo de grande fé, pois pede que se possível seja livre de morrer, mas ao mesmo tempo pede que a vontade do Pai seja feita. Estes dois elementos devem estar presentes também na vida de todo cristão autêntico: fragilidade humana e uma profunda fé e confiança em Deus, o criador.
Jesus não tem vergonha de se expressar dessa forma diante de Deus e de seus amigos. Ele se revela a tal ponto aos discípulos que chega a dizer que sua alma está “profundamente triste, triste até a morte”. Tinha medo da morte, sofria com as tribulações e angustias da vida. Suas palavras ecoam o lamento do Salmo 42.5 – “Por estás abatida, ó minha alma? Por que te perturbas dentro em mim? Espera em Deus, pois ainda o louvarei, a ele meu auxilio e Deus meu”. Jesus, como o salmista, busca a Deus em meio ao sofrimento e o medo da morte, e recebe consolo e refúgio.
Nós também temos a possibilidade de poder clamar a Deus hoje em meio ao nosso sofrimento e temor. Eu não sei exatamente o que tem se passado com você, mas sei que todos passamos por muitas lutas e angustias. Jesus nos convidou para ver e ouvir sobre sua dor, angustia e medo, para que tivéssemos a mesma coragem e ousadia que ele teve de buscar o Pai.
Assim, nos resta saber que só há uma maneira de encontrar forças para vencer o medo e ansiedade: estando perto de Jesus e vigiando com ele; como ele foi para perto do Pai na hora da angustia, nós também devemos ir para perto dele.
A orientação de Jesus para os discípulos era para que eles ficassem acordados, alertas, junto dele, para que pudessem compreender como vencer as lutas e desafios da vida, com coragem e fé, na dependência de Deus.
Sendo assim, para encontrar descanso para nossas almas, é bom ficarmos bem pertinho de Jesus, vigiando com ele, e dependendo sempre do Pai. E que seja sempre assim.
Rev. Robson Gomes