O autor e compositor, já falecido, Sergio Pimenta tem uma música muito bonita que diz assim (alias todas as can- ções dele são muito lindas, fortes e impactantes): “As palavras não dizem tudo, mesmo que o tudo seja fácil de dizer.
Com certeza fala bem melhor o mudo, se sua atitude manifesta o que crê. Compromisso, sumiço, omisso: Ou faz o que fala, ou se cala de uma vez, para que não venha sobre si justo juízo, pois terrível coisa é cair nas mãos do Rei.A mesma língua que abençoa, amaldiçoa; a mesma língua canta um hino e traz divisão; Não pode da mesma fonte o doce e o amargo, se Cristo habita de fato no coração.”
A verdade é que, se Cristo realmente habita no coração de alguém, esse alguém tem que ter coerência e viver coerente. Não adianta cantar canções lindas, que falam de coisas lindas, e viver uma vida “horrorosa”; não adianta vir a igreja dominicalmente, cantar no louvor, prestar atenção no culto, dar sua oferta, e viver uma vida cheia de amargura e tristeza.
Por outro lado, é também verdade que a vida não é nada fácil para ninguém. A medida que vou amadurecendo vejo o quanto a vida é dura e “injusta” para todos nós. A dor é a coisa mais humana que pude compreender, especialmente a minha dor. A nossa dor é muito real, e como dói!
A coerência a que me refiro não tem nada a ver com a negação das tribulações, lutas e da dor. Ela tem a ver com a aceitação delas, isso sim. A dor é parte inerente da experiência humana, o sofrimento, por sua vez, é fruto do pecado em nossa existência. O sofrer, eu diria, é o “rendimento” ilícito decorrente da dor lícita e legítima; ele é o “lucro” pela “usura” de uma dor legítima, portanto não produz saúde, ao contrário, trás adoecimento para as nossas vidas.
Quando sofremos, e mormente somos nós mesmos que produzimos todo o sofrimento em nossas vidas, diferente da dor que normalmente advém de um evento “traumático” externo ou dor de alma que padece com nossas limitações e mazelas, deixamos de ser coerentes e abandonamos a fé. Preciso entender que o sofrimento é a não aceitação da dor legitima. Devemos “sofrer” as nossas dores, mas não permitir que nossas dores nos façam “sofrer”.
Se pregamos o perdão, precisamos viver perdoando e aceitando o perdão; se pregamos o amor, devemos amar a despeito de qualquer coisa. As circunstâncias da vida podem gerar dor, mas não devemos permitir que elas nos escravizem num “looping” de sofrimento interminável, que sempre produz mais e mais sofrimento.
O segredo de uma vida coerente é aprender com a experiência de dor, aceitá-la com fé e determinação para nosso crescimento e maturidade, e passar adiante na vida mais preparado para as novas experiências.
Isso é exatamente viver o que se prega: pregamos que somos seres humanos, fadados a fracassos e sujeitos à muitas lutas, tribulações e dores, mas que não aceitamos sofrer, pois temos no Deus Todo Poderoso, que é nossa força e nossa esperança, em quem depositamos toda a nossa fé e confiança cada dia, todos os dias.
Dito isso, “trincamos os dentes” e teimamos em viver com fé à despeito das circunstâncias, na confiança que Ele sempre cuida de nós.
Que vivamos dessa forma, amém.
Rev. Robson Gomes