Talvez seja um dos grandes temas que vêm sendo questionado nos últimos tempos, especialmente a partir da ideia do desenvolvimento científico, stricto sensu, refiro-me ao impulso iluminista de completo abandono da explicação de todas as coisas pela religião e a busca do entendimento através do pensamento científico, ou seja, só aceitando aquilo que possa ser comprovado por um método científico. Acredito que o maior erro que muitos cometem é fazer a categórica afirmação de que fé e ciência são excludentes; não são. Também, acredito que muitos cometem erro quando “trilham apenas na fé”, ou seja, em nome da sua fé, fazem negação de realidades que são claras e inequivocamente comprovadas. Mas, esse erro não está apenas naqueles que assim procedem, está também com aqueles que imaginam o oposto; aqueles que imaginam que a ciência explica ou é a razão de todo argumento. Assim, devemos pensar numas situações básicas para harmonizarmos esses dois ramos que fazem parte da criação.
Primeiro, quero invocar o argumento sobre a origem de todas as coisas. Independentemente de alguém aderir à teoria da evolução ou da criação, uma coisa é fato: ex nihilo, nihilo (do nada, nada). E aqui quero trabalhar com muito cuidado porque alguém pode dizer: “mas a Bíblia diz que Deus criou todas as coisas do nada”. Eu respondo categoricamente que sim. Daí a necessidade de entendermos, numa análise honesta e sem comprometimento da nossa capacidade racional, a atuação de cada um desses ramos. Quando afirmei ex nihilo, nihilo, estou dizendo que a criação não pode ser a causa de si mesma, pois é produto ou resultado de algo anterior a ela, caso contrário, teria existência e desenvolvimento autônomos. Assim, quando falo de fé e ciência estou falando de dois níveis de “estudo e vivência” que culminam num mesmo resultado: um criador e uma obra criada. Portanto, a fé implica numa atitude (ou procura) de relacionar-se com o autor da criação, ao passo que a ciência implica na atitude de entender como toda a criação se originou, como vive e se mantém, bem como ela é, desde os menores seres até aos maiores, daí termos Biologia, Arqueologia, medicina, que são ramos científicos que atuam numa mesma realidade; a vida, a criação a existência. Portanto, nesta perspectiva, não vejo nenhuma separação entre fé e ciência.
Segundo, há quem diga assim: “dou mais crédito à ciência porque nela temos a comprovação por meio de experimentos já testados”. Interessante é que fé e ciência podem ter pressupostos errados. Na fé, quando há definições em pressupostos errados, temos as heresias ou os falsos ensinamentos. Na ciência, a teoria é abandonada ou modificada. A pergunta então é: “preciso da ciência para crer em Deus”. A resposta é clara e simples: não. Pois crer em Deus está relacionado com a busca pelo autor da criação, como já disse, mas, não tenho dúvidas de que quanto mais conhecemos a natureza, a constituição e o modo de ser da ordem criada, mais nos devotaremos e prostraremos diante do autor dela, mais nos enxergaremos no contexto da criação e mais nos encantaremos diante de tamanha beleza e poderosa perfeição. Utilizando as palavras do grande teólogo R.C. Sproul: “quando os cientistas chegarem no cume do monte da transfiguração, eles encontrarão os teólogos assentados lá”.
Terceiro, não devemos ter uma visão bifurcada a respeito da criação e da vida, ou seja, ora caminho nos trilhos da fé e ora nos da ciência. Temos que olhar a vida como um todo, como uma integralidade existencial em que temos apenas dimensões de uma mesma realidade. Assim, o que quero lhe dizer é que não é correta a ideia de que somos compartimentados, ora fé e ora ciência, não. Ciência e fé fazem parte da esfera da criação e ambas devem ser levadas a sério e estudadas com seriedade. Ademais, ambas nos levarão apenas para um único ponto: o autor de todas as coisas.
Rev. João Batista