Deus não “facilitou” muito as coisas da vida para nós, seres humanos limitados e circunscritos à essa breve existência, debaixo dessa atmosfera gravitacional desse pequeno planeta azul pendurado no vastíssimo e denso espaço sideral. A frase ficou meio filosófica, mas é isso mesmo que queria quando pensei e meditei nela. Deus, em seus planos perfeitos e soberanos, nos chama à existência, nos dá uma vida e nos convida a vive-la, com coragem e determinação, onde ele mesmo nos plantou, sem nem ao menos nos perguntar o que queríamos. E assim, ele nos convida ao trabalho, a luta, a dedicação e ao esforço – e é mais ou menos por aí que a nossa vida se descortina debaixo desse sol, pelos anos que o Senhor Deus nos permitir viver. Nada fácil!
Isso só reforça o quanto somos frágeis e pequenos, dependentes e quase que insignificantes, e o quanto isso precisa ressaltar a grandeza de Deus. Isso precisa me levar a pensar sobre a brevidade da vida e de seus desígnios, e pelo menos me desafiar a tentar descobrir qual é o propósito de Deus para mim e para os meus breves e árduos anos aqui neste lugar. O poeta bíblico, em seu livro de Eclesiastes, nos dá algumas dicas para entender estes questionamentos.
O rei Salomão nos adverte que a vida e todo o esforço humano é vão, é vaidade, é correr atrás do vento crendo que podemos apanhá-lo com as nossas próprias mãos. É… de fato parece que Deus não facilitou muito para nós: quanto mais se sabe, mais responsabilidade e temor são gerados; quanto mais se aprende, maior o sofrimento; quanto mais se edifica, mais as lutas aumentam; quanto mais fama e poder, menos liberdade e alegria genuínas; quanto mais se tem, mais medo de perder; quanto mais se vive, mais tensa a caminhada; até mesmo as festas e o muito vinho produzem desilusões e amargor.
Certo é que o trabalho e todo o empenho na terra estão fadados ao cansaço e sofrimento, e Deus deu isso ao ser humano para o afligir em seus dias terrenos (1.13-14). É tudo um grande vazio, pois não podemos levar nada daquilo que construímos no decorrer de nossos dias, pois o destino dos sábios e dos tolos é o mesmo, pois ambos enfrentarão a morte como qualquer outro mortal. Vã é a formosura e vão é o conhecimento, e também todos os desígnios dos humanos enquanto vivendo seus sonhos e seus labores nessa passagem terrena; e tudo é inútil e vazio longe de Deus.
E aí? Vale a pena? Vale a pena correr atrás do vento e viver na angustia de nunca conquistar o suficiente? Os olhos parecem que não se cansam de ver e os ouvidos de ouvir, as mãos de possuir, e a alma de entender… Então, quando pensar em desistir de tudo, quando pensar sobre a brevidade e fragilidade da vida, quando meditar em nossa pequenez, quando refletir em quão volátil é viver, precisamos da perspectiva de Deus para não nos desesperar e desistir.
Se não tivermos a perspectiva da eternidade e de que há um Deus que controla e governa todas as coisas, perdemos o norte e desesperamos. Entender a vida na perspectiva da eternidade muda o discurso e altera nossa percepção da existência humana. Nada pode se comparar com o que Deus fez em Cristo Jesus, e a bíblia nos diz que “nem olhos viram, nem ouvidos ouviram, nem jamais penetrou em coração humano, o que Deus tem preparado para aqueles que o amam” (1 Coríntios 2.9) – essa deve ser a perspectiva correta para viver esses 70/80 anos que o Senhor Deus nos dará.
Somente quando entendemos e percebermos que a vida longe de Deus e fora de seus propósitos é inútil e vã é que teremos a paz de viver um dia de cada vez, e um dia atrás do outro. Isso é confiar que o nosso destino está traçado e seguro nas mãos daquele que criou o universo e tudo o que nele há. Se festas ou luto, e quem decide o que vamos ter que enfrentar é Deus, que seja para glória dele; se tristezas ou alegrias, que seja para que o propósito dele supere nossas vãs e frágeis expectativas; e que ele nos capacite para o que der e vier. Certo é que todo o esforço fora do Reino de Deus é vão. Essa é a grande mensagem de Eclesiastes.
E daí? Vale a pena? Somente se for pra Jesus e seu Reino eterno, senão é correr atrás do vento mesmo, é tudo vaidade das vaidades e um grande vazio.