As Palavras da Boca e o Meditar do Coração

Esse salmo de Davi pode ser dividido em três partes, seguido de um fechamento: Versos de 1 a 6 nos fala que a criação, obra das mãos divinas, dão testemunho ao seu excelso Criador; os versos 7 a 10 descreve o valor incomparável da Lei de Deus, que promove transformação para a vida humana; e a terceira parte, versos de 11 a 13, falam da necessidade de perdão e proteção divinos para que alcancemos nossa salvação. A conclusão, que está no verso 14, fala de uma aspiração, uma oração, um desejo claro do salmista em poder louvar e adorar ao único Deus que salva.

O resumo da primeira parte desse salmo pode ser dito de forma simples e direta da seguinte forma: o mundo e tudo o que nele há testificam de Deus, o seu criador. Toda a criação tem a capacidade em si mesma de reconhecer e atestar sobre sua existência e de onde veio – somos todos feitura de Yahweh! É algo maravilhoso e ao mesmo tempo misterioso como a criação atesta a existência de Deus e dá glória e honra a ele. A criação “adquire” voz e proclama! E proclama a glória de Deus! O apóstolo Paulo em Romanos 1.20 diz exatamente isso: que a caráter invisível de Deus pode ser percebido através das coisas criadas, e isso desde o início da criação do universo.

Contudo, essa Revelação Natural de Deus através da natureza criada é diferente da Revelação Especial, que está contida na expressão de sua palavra, o que para nós hoje é a Bíblia Sagrada. A glória devida ao nome de Deus pode advir de sua extensa e complexa criação, mas a salvação dela, que inclui os seres humanos, somente advém da pessoa e obra de seu filho Jesus Cristo, o Verbo vivo, a Palavra encarnada. Essa mensagem não pode ficar ofuscada, ou mesmo desconsiderada, pois é a essência do Evangelho. Por isso o salmista faz uma conexão muito linda, saindo da Revelação Natural, a criação divina, para falar sobre a Revelação Especial, a preciosa Palavra de Deus – a Torah.

Então, os versos seguintes dão a informação necessária sobre o poder da Palavra de Deus, a Lei perfeita e santa, que cura e salva; os testemunhos, os preceitos, o mandamento, o temor, os juízos, esses são mais desejáveis que riquezas, e ouro, e bens. Eles, ou a Torah, é muito mais preciosa que qualquer outro bem, pois produz vida e salvação. A chave para esses versos é entender que a voz da palavra de Yahweh, essa sim, tem o poder para transformar vidas, e não somente reconhecê-lo, como o faz a natureza visível.

A terceira e última parte do salmo é uma oração por ajuda e um pedido de socorro. A natureza criada aliada à Lei Divina trás um autoconhecimento muito importante que nos coloca na condição de necessitados. Assim, o perdão de Deus se torna essencial para nossa existência, e somente debaixo do cuidado divino encontraremos a segurança e a salvação.

O salmista tem a convicção clara de que nem pela criação, que proclama a glória de Deus, e nem pela atuação da Torah aplicada em sua vida, ele terá a salvação. Ele reconhece sua pequenez e fragilidade, seu estado pecaminoso, e assim clama por perdão e proteção para continuar e chegar ao fim da sua jornada com sucesso.

Somente pela intervenção graciosa do Eterno é que podemos ter sucesso nesta jornada aqui na terra. Não há como confiar somente na manifestação clara de Deus pela sua natureza bela e esplendorosa, e nem nos orgulharmos no dom gracioso da Torah para a humanidade. Há ainda uma necessidade de recebermos perdão e graça, e muita proteção para a longa e árdua jornada. Somente o Criador pode nos garantir tal graça pela sua própria ação de vir ao encontro de sua criação caída. Somos consideramos justos e justificados somente pelo ato da graça divina, que chega até nós pelo seu perdão magnifico.

O fechamento do Salmo 19 traz uma linda mensagem para os peregrinos terráqueos: que nossos pensamentos e atitudes, todos eles, sejam cativos a Deus, e todos para a glória dele e para exaltar de seu glorioso nome. Tudo o que pensarmos e todas as nossas ações têm que estar em harmonia com a revelação linda e maravilhosa de Deus Pai, na natureza, no Torah e pela graça perdoadora de Jesus.

Essa oração final tem o propósito de colocar nosso esforço em cumprir isso como um sacrifício a Deus e seus eternos propósitos para nós. Que as palavras da minha boca e o meditar do meu coração sejam agradáveis a ti, Yahweh! Tudo em nós precisa ser oferecido ao nosso bom Criador como um sacrifício agradável, um sacrifício que vale a pena, pois vale a vida.

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