“O povo que andava em trevas viu grande luz, e aos que viviam na região da sombra da morte, resplandeceu-lhes a luz. Tens multiplicado este povo, a alegria lhe aumentaste; alegram-se eles diante de ti, como se alegram na ceifa e como exultam quando repartem os despojos” Isaias 9.2-3

O Ano Litúrgico cristão começa com o Tempo do Advento: um tempo de preparação para a Festa do Natal de Jesus. A chegada do Filho de Deus à terra foi um dos maiores acontecimentos da História: o Verbo se fez carne e habitou entre nós, dignou-se a assumir a nossa humanidade, sem deixar de ser Deus. Esse acontecimento precisa ser preparado e celebrado a cada ano. Nestas quatro semanas de preparação que antecedem a data do Natal somos convidados a esperar Jesus Cristo, que veio no Natal e que também virá no final dos tempos outra vez, como prometeu enquanto estava conosco.

A primeira referência ao “Tempo do Advento”, que significa vinda, chegada, e marca o início do ano litúrgico da igreja cristã, é encontrada na Espanha, quando no ano 380 d.C., o Sínodo de Saragossa prescreveu uma preparação de três semanas para aguardar a Epifania (manifestação de Deus ao mundo pagão, comemorada no dia 6 de Janeiro, conhecida como “Dia de Reis”), quando termina o ciclo de celebração do Natal. Há relatos de que o Advento começou a ser vivido entre os séculos IV e VII em vários lugares do mundo cristão, como preparação para a festa do Natal. Só mais tarde é que o Advento passou a ser celebrado mantendo a tradição e formato das quatro semanas antes do Natal.

O TEMPO DO ADVENTO E SUAS CARACTERÍSTICAS

O tempo do Advento é para toda a Igreja, tempo de espera e esperança, de estarmos atentos e vigilantes, preparando-nos alegremente para a vinda do Senhor, como uma noiva que se enfeita, se prepara, para seu casamento. Não uma simples espera, mas uma antecipação cheia de gozo e alegria pela encarnação do Eterno.

Advento começa às vésperas do Domingo mais próximo do dia 30 de Novembro e vai até as primeiras vésperas do Natal de Jesus, contando quatro domingos.

Esse tempo possui duas características: Nas duas primeiras semanas, a nossa expectativa se volta para a uma reflexão sobre a reconciliação de Deus com a humanidade, bem como nosso esforço de buscar a santidade na esperança da chegada definitiva e gloriosa de Jesus Cristo, Salvador e Senhor da história, no final dos tempos. As duas últimas semanas visam em especial a preparação para a celebração do Natal, a primeira vinda de Jesus entre nós. Por isso, o Tempo do Advento é um tempo de piedosa e alegre expectativa.

TEOLOGIA DO ADVENTO

O Advento recorda a dimensão histórica da salvação, evidencia a dimensão escatológica do mistério cristão e nos insere no caráter missionário da vinda de Cristo. Ao serem aprofundados os textos litúrgicos desse tempo, constata-se na história da humanidade o mistério da vinda do Senhor, o menino Jesus, que de fato se encarna e se torna presença salvífica na história, confirmando sua promessa e a aliança feita ao povo de Israel.

Deus ao se fazer carne plenifica o tempo (Galatas 4.4) e torna próximo (presente) o Reino de Deus (Marcos 1.15). O Advento recorda também o Deus da Revelação, aquele que é, que era e que há de vir (Apocalipse 1.4-8), que está sempre realizando a salvação, mas cuja consumação se cumprirá cabalmente no “dia do Senhor”, no final dos tempos, na restauração de todas as coisas.

O caráter missionário do Advento se manifesta na Igreja pelo anúncio do Reino e a sua acolhida pelo coração das pessoas até a final manifestação gloriosa de Cristo. As figuras de João Batista e de Maria e José, pais do menino Jesus, são exemplos concretos da vida missionária de cada cristão, quer preparando o caminho do Senhor, quer levando o Cristo dentro de si ao próximo para o santificar. Não se pode esquecer que toda a humanidade e a criação vivem em clima de advento, de ansiosa espera da manifestação, cada vez mais visível, do futuro Reino de Deus (Reino Escatológico) que se estabelecerá uma vez por todas.

A celebração do Advento é, portanto, um meio precioso e indispensável para nos ensinar sobre o mistério da salvação e assim termos a Jesus como referência e fundamento, dispondo-nos a “perder” a vida em favor do anúncio e instalação de seu Reino Eterno aqui na terra.

ESPIRITUALIDADE DO ADVENTO

O Advento nos impulsiona a reviver alguns dos valores essenciais cristãos, como a alegria expectante e vigilante, a esperança, a humildade, a fé, e a conversão.

Deus é fiel às suas promessas: o Salvador virá; daí a alegre expectativa, que deve nesse tempo, não só ser lembrada, mas vivida, pois aquilo que se espera acontecerá com certeza, com o foi com seu Natal. Portanto, não se está diante de algo irreal, fictício, passado, mas diante de uma realidade concreta e atual. A esperança da Igreja é a esperança de Israel já realizada em Cristo, mas que só se consumará definitivamente na “parousia”, a volta do Senhor. Por isso, o brado da Igreja característico nesse tempo é “Maranatha”! Ora vem Senhor Jesus!

O tempo do Advento é tempo de esperança porque Cristo é a nossa esperança (1 Timóteo 1.1); esperança na renovação de todas as coisas, na libertação das nossas misérias, pecados, fraquezas; esperança na vida eterna, e que nos molda na paciência diante das dificuldades e tribulações da vida e diante das perseguições do mundo.

O Advento também é tempo propício à conversão e arrependimento. Sem um retorno de todo o ser a Cristo não há como viver a alegria e a esperança na expectativa da Sua vinda. É necessário que “preparemos o caminho do Senhor” nas nossas próprias vidas, lutando incessantemente contra o pecado, através de uma maior disposição para a oração e profundidade na Palavra.

No Advento, precisamos nos questionar e aprofundar a vivência da humildade. Não na humildade financeira e social, mas principalmente aquela que nos leva a confiar, a nos render e depender inteiramente de Deus e não dos bens terrenos. Essa humildade e fraqueza, riquezas do menino Deus, devem conduzir-nos à verdadeira mansidão e posse do Reino de Deus. Render-nos diante de Sua poderosa mão e viver intensamente e intencionalmente os valores do Reino Eterno apregoados pela pessoa maravilhosa de Jesus Cristo, Salvador de toda humanidade, deve ser nosso único estilo de vida.

Viver por Cristo e para Cristo é o grande chamado do Natal, e o Advento deve nos conduzir nessa direção.Uma vida dedicada ao serviço de Cristo e seu Reino é algo esperado de todo cristão verdadeiro, transformação gerada por Cristo mesmo em cada um de nós, para sua própria glória e louvor.

SÍMBOLOS DO ADVENTO

Vários símbolos do Advento nos ajudam a mergulhar no mistério da encarnação e a vivenciar melhor este tempo. Entre eles há a Coroa ou Guirlanda do Advento. Ela é feita de galhos sempre verdes entrelaçados, formando um círculo, no qual são colocadas 4 grandes velas representando as 4 semanas do Advento. A coroa deve ser colocada em lugar visível. A cada domingo uma vela é acesa: no 1° domingo uma, no segundo duas, e assim por diante, até serem acesas as 4 velas no 4° domingo. A luz nascente indica a proximidade do Natal, quando Cristo, salvador e luz do mundo, brilhará para toda a humanidade, e representa também, nossa fé, esperança e nossa alegria pelo Deus que vem. No inicio nós as vemos sem luz e sem brilho. Recorda-nos a experiência de escuridão do pecado. À medida que se vai aproximando o Natal, vamos ao passo das semanas do Advento, acendendo uma a uma as quatro velas representando assim a chegada, no meio de nós, do Senhor Jesus, a Luz do Mundo, quem dissipa toda escuridão, trazendo aos nossos corações a reconciliação tão esperada.

Não há unanimidade com relação às cores das velas, mas nós utilizamos quatro cores, uma para cada semana. A primeira vela, de cor lilás, lembra o perdão concedido a nós e nos leva ao arrependimento necessário para receber Cristo em nossas vidas. A segunda, de cor vermelha, simboliza a nossa fé na reconciliação feita entre Deus e a humanidade através de seu filho Jesus Cristo. A terceira, de cor branca, recorda a alegria e paz pela chegada do Salvador naquela noite memorável. A quarta, de cor verde, lembra a esperança real da promessa de uma aliança eterna de Deus com o mundo.

CONCLUSÃO

O Advento celebra o Deus da esperança, e vive a alegre expectativa do retorno glorioso de Jesus para estabelecer o Seu Reino eterno de equidade, de justiça e de paz sem fim. E é exatamente isso que estamos celebrando neste tempo especial de Natal.

Texto Adaptado por Rev. Robson Gomes