Pensamos erroneamente que “aceitar” a Cristo como nosso Senhor e Salvador desencadeia da parte D´Ele uma série de compromissos e responsabilidades para conosco. Como se a partir disso Jesus estivesse obrigado ao cumprimento de uma série de promessas vitoriosas e triunfantes para nós, ou seja, sofrimento nem pensar, “já que somos filhos” exigimos o que nos parece bom e agradável. Pensamos também que tudo aquilo que fazemos e chamamos de “fazer o bem” ou “cumprir a missão” ou ainda “anunciar o Reino de Deus” tem a obrigação de dar certo e alcançar o “sucesso” esperado. A verdade é diametralmente oposta! Sequer sabemos o que é fazer o bem. Quer um exemplo? Comparados a Deus que tem todo o controle da história em suas mãos (Efésios 1.9-10) e sabe o caminho e o fim de Seus próprios planos para o universo, quem achamos que somos, senão o recém-nascido que chora ao receber qualquer uma das vacinas imunizantes ou até mesmo ao fazer o teste do pezinho em seus primeiros dias de vida? Assim como este bebê não conseguimos distinguir que determinada dor e sofrimento precisa ser vivida e significa o bem e a proteção que nosso Pai celestial nos dá. Nossa visão sobre aquilo que de fato é o bem, é muitíssimo distorcia pela nossa incapacidade de compreender o Plano de Deus se desdobrando pelo cronos (presente e futuro). E mesmo assim, Ele nos usa e nos usará. Não estou dizendo isso para que você relaxe e siga descompromissado com o exercício e o compromisso de entender o seu papel nesta missão, estou dizendo isto para que desde já você perceba a inevitabilidade da vontade e do Plano de Deus.
Lendo isso, você pode pensar: Mas se isso é assim como vou fazer aquilo que é certo? Como farei o bem? Como vou anunciar o Reino de Deus? Como vou cumprir a minha missão? Qual é de fato a minha missão?
No evangelho de Lucas nos capítulos 9 e 10 Jesus envia seus discípulos (9.2 – 10.1), primeiro os doze e depois outros setenta (ou setenta e dois) para pregarem o evangelho anunciando a chegada do Reino de Deus (10.9) e esta passagem nos ensina muito sobre como foi, como é, e como será manifesto o seu reino e missão em nossas vidas cotidianas. O texto nos informa que antes de enviar os discípulos Jesus instrui a eles revelando como seria a missão. Em primeiro lugar ele disse que eles não dariam conta de tudo e de todos os necessitados, portanto esta preocupação deveria ser levada ao Senhor da colheita (10.2), se referindo ao Pai e a Ele mesmo. Em seguida a revelação de que eles sofreriam possíveis ataques, rejeição e perseguição (10.3). Depois informa a eles que não haveria preparativos para a missão e os adverte para que não se distraiam (10.4). Pede a eles que ao entrarem em uma casa digam: “Paz a esta casa.” (10.5) Sem pré-julgamentos ou verificação de mérito, avisando a eles que o efeito desta paz não seria desperdiçado. Disse para ficarem na casa em que fossem recebidos “sem pressa” de ir a outra casa (10.6), ou seja, sem preocupação e controle de agenda e horário. Acrescentou ainda, que eles deveriam comer o que fosse oferecido, qualquer que fosse o alimento posto para eles (10.7-8), tirando dos discípulos o controle sobre origem e procedência e fazendo ainda com que seus preconceitos e gostos pessoais fossem vencidos para que a missão fosse cumprida. Também os orientou para que quando não fossem bem recebidos não insistissem ou ficassem chateados porque não era eles que estavam sendo rejeitados e sim aquele que tinha os enviado (10.10).
Estão conseguindo perceber que algo que não existe enquanto os discípulos de Jesus estão em missão é controle e previsibilidade? A missão para qual fomos chamados por Cristo a participar é a mesma missão destes setenta e dois! Anunciar o Reino de Deus, curar, libertar e revelar a verdade, que é o próprio Cristo, enquanto estamos em missão é algo que se revela em nossa absoluta falta de controle sobre o que vai acontecer. É saber que não controlamos como acontece e nem os resultados que são manifestados no Reino ao qual anunciamos. É também entender que não cabe a nós apontar ou até mesmo identificar aqueles que serão chamados a fazer parte deste Reino. É o Pai que releva o Filho a quem Ele quer revelar (10.22)!
Quando os setenta e dois voltaram de sua missão eles estavam alegres em ver que até os demônios se submetiam a eles em nome de Jesus (10.17) e é o próprio Jesus que ensina a eles que a alegria deles não deveria estar na submissão destes demônios a eles e sim no fato de que eles já faziam parte deste Reino ao qual anunciavam.
Devemos repensar a maneira como estamos vivendo a missão de Deus confiada a nós, entendendo que ela não pode ser controlada ou medida em nossos imprecisos e defeituosos termômetros e relógios.
A missão de Deus é de Deus! Nos cabe a alegria e o prazer de fazer parte de algo tão grande! Que Ele mude nossa visão e traga leveza para nossa caminhada!