Pelo contexto histórico, estamos naquela última semana de Jesus aqui na terra, chamada Santa, consequentemente, são seus últimos ensinos presenciais. Penso que ele está atento àquilo que não podia faltar. Essa temporada final começa em um domingo com a entrada dele em Jerusalém e sua visita ao templo, mas em caráter de observação, logo, ele foi para Betânia com os Doze (Marcos 11.11).
A segunda-feira amanhece e Jesus se dirige, novamente, ao templo, agora de uma forma mais marcante. Ele expulsa os que compram e vendem, derruba mesas de cambistas, cadeiras dos que comercializam pombas, impede o transporte de mercadoria para o templo e ensina: “A minha casa será chamada casa de oração para todos os povos, mas vocês fizeram dela um covil de ladrões”. (Marcos 11.17)
A ação de Jesus no templo, mais uma vez, chama a atenção dos chefes dos sacerdotes e dos mestres da lei, mas impedidos pelo medo desistiram de qualquer ação. Jesus e os Doze voltam para Betânia, porém na terça-feira cedo, Jesus está, novamente, aonde? Isso mesmo! Passando pelo templo. Nesse momento, os chefes dos sacerdotes, os mestres da lei e os líderes religiosos questionam sua autoridade (Marcos 11.28)
Depois disso, Jesus começa a ensinar por parábolas. Mais uma vez, por medo, a oposição se retira, mas não desiste: envia, a Jesus, no templo, alguns fariseus e herodianos (apoiadores de Roma), bons de perguntas! E não é que a oposição ganha mais aliados: os saduceus (administradores do templo). Jesus continua ali, no templo, firme em suas respostas, até que começa a fazer perguntas (Marcos 12.35)
Terça-feira, à tarde, Jesus assume a liderança do discurso, começa a traçar o perfil dos mestres da lei, se assenta em frente do lugar onde eram colocadas as contribuições e começa a observar a multidão ofertando, muitos ricos com grandes quantias. Enquanto isso, na sala das ofertas, uma viúva pobre chega e coloca duas moedas de pouco valor (Marcos 12.42)
Aqui, corremos um grande risco: tirar os olhos de Jesus e colocar nessa viúva. Não façamos isso! Continuemos focados no Messias, no desafio de perceber o Jesus dos Evangelhos e os princípios do Reino de Deus. O Mestre declara aos seus discípulos: “Afirmo-lhes que esta viúva pobre colocou na caixa de ofertas mais do que todos os outros. Todos deram do que lhes sobrava; mas ela, da sua pobreza, deu tudo o que possuía para viver” (Marcos 12.43-44)
Ao focar em Jesus e não na viúva, não corremos o risco de querer transformar o mundo, o outro, nos esquecendo de nós mesmos. Jesus não se direciona à viúva, à multidão ou aos mestres da lei. Ele chama a si os seus discípulos e deseja ensinar aos seus seguidores a dar tudo o que se possui para viver – princípio da dependência. No Reino de Deus existe uma única autoridade que não é questionada, mas experimentada (Marcos 11.33).
Ao focar em Jesus e não na viúva, não corremos o risco de particionar o Evangelho e estimar seus aspectos políticos, econômicos e sociais. A instrução de Jesus é amar a Deus com tudo que se tem. Isso que Ele deseja enfatizar aos discípulos nesse fim de tarde. O princípio das ofertas no Antigo Testamento, válido para Reino de Deus, é a honra à divindade, o amor a Deus com tudo o que se possui para viver (Marcos 12.30).
Ao focar em Jesus e não na viúva, não corremos o risco de supervalorizar o pobre em detrimento do rico. Embora as boas notícias do Reino de Deus tragam esse viés de equidade entre as classes, Jesus não cria disputa entre elas, pelo contrário, o princípio do Reino de Deus é do amor ao próximo, independente de sua situação econômica, como a si mesmo. No Reino de Deus, o amor supera todos os sacrifícios e ofertas (Mc.12.31).
Jesus é um outro tipo de Mestre e deseja que seus discípulos sejam diferentes dos seguidores de outros mestres. Dias depois, os discípulos se tornaram apóstolos, mestres da lei, pastores das ovelhas de Jesus e esse esperava outro tipo de postura, por isso o Mestre chama a si os seus discípulos e os ensina alguns princípios do Reino de Deus, com a ajuda de uma viúva pobre.