O texto que lemos nos relata dois episódios muito especiais do ministério de Jesus. Primeiro, é lindo ver a relação afetuosa que o Mestre tinha com o Mar da Galileia. Boa parte de seu ministério foi ao redor do lago. Chamou discípulos, enfrentou tempestades, pregações diversas, retiradas estratégicas… usava os barcos, ensinava na praia e até andou sobre as águas. Nesta perícope, ele atravessa o lago para a outra margem e a multidão o ia após ele. Certamente em busca de uma cura, um milagre, ou mesmo por curiosidade. Alguns queriam de fato conhecer de perto o famoso galileu; poucos o seguiam.
Entre a multidão que vinha após ele, um chefe da sinagoga o adora. Antes de pedir, ele o adora! Reconhece quem Jesus é; na verdade, sabe quem ele é. Pede insistentemente, mas adora antes. Precisamos aprender com nosso irmão Jairo. Muitas vezes no nosso desespero, no nosso aperto, esquecemos quem Jesus é, o Senhor de todas as coisas. Jairo adora e clama, e é ouvido. Sua filha única estava para morrer e Jesus vai ao encontro dela para curá-la, para ressuscitá-la. Entretanto, vai no seu compasso, em seu tempo.
Entrementes, enquanto a multidão o seguia e o apertava, uma outra situação acontece. Uma mulher com uma hemorragia intensa por 12 anos, que médicos não conseguiram resolver, vem por detrás dele, e o toca, crendo que dele sairia cura. E foi assim. Ela ficou imediatamente curada! Uma multidão o apertava e ele para e pergunta quem o tocou – tocar Jesus é diferente de acompanhar a procissão; tocar Jesus, em suas vestes, é o ato singelo de fé que muda a nossa história; tocar Jesus é procurar a cura no lugar certo. Tocar crendo que ele pode fazer infinitamente mais do que pedimos ou mesmo pensamos.
Aquela mulher teve que enfrentar algumas barreiras para tocar Jesus e ser curada. A Lei Mosaica dizia que as mulheres com sangramento deveriam ser excluídas da convivência social por serem consideradas imundas (Levíticos 15.25-27). Essa nossa irmã estava há 12 anos dessa forma. Teve que se infiltrar no meio da multidão com medo de ser reconhecida; teve que enfrentar o desprezo e a vergonha de um perpétuo isolamento, inclusive de seus mais próximos; teve que encarar o preconceito por ser ela mulher e imunda; teve que lidar com o respeito ao Mestre e temer como ele poderia reagir se uma imunda o tocasse; teve que tentar a sua última saída; teve que encarrar um perigo de morte, de ser descoberta, e mesmo assim ela o toca – ela o toca e recebe e ouve de Jesus: “Filha, a tua fé te salvou; vai-te em paz e fica livre do teu mal.”
Jesus mal acabara de proferir as palavras àquela mulher, e alguém diz a Jairo pra não importunar o Mestre, pois sua filha havia morrido. Talvez Jairo já soubesse disso; talvez era por isso mesmo que fora importunar o Mestre. Ele sabia que só aquele homem poderia mudar o destino de sua filhinha.
Fico cá imaginando o coração de Jairo quando Jesus parou para atender aquela mulher. Jairo tinha pressa. Era muito importante que Jesus fosse ver sua filha, e rápido. Ele não podia parar e dar atenção à uma mulher imunda. Tinha sua filha em grande risco de morte. Mas, Jesus faz tudo em seu tempo. Tudo faz lindamente, em seu tempo – é a canção que cantamos.
Precisamos descansar no tempo de Jesus. O nosso tempo e nossa urgência, necessariamente, não são o tempo nem a urgência do Mestre. Ele sabe de tudo e de todas as coisas, nos ama, e fará o que é melhor para cada um de nós. Para alguns é a cura, a vida e o livramento, para outros é a enfermidade, a morte física e o sofrimento e pesar. Ele é o Deus sempre bom, faz tudo em seu tempo e de conformidade com sua vontade, e isso é difícil de entender.
E Jesus continua a procissão e a multidão não dá trégua. Ele diz palavras maravilhosas a Jairo. Palavras que devemos colocar em nossos corações: Não temas, crê somente. Eu não sei o que o Eterno tem para mim e para você, mas eu e você precisamos que nossas almas ouçam da boca de Jesus o tempo todo: não temas, crê somente! Aquela mulher creu, Jairo creu, e eu e você precisamos crer e não ter medo.
O desfecho do episódio é a cura daquela mulher desesperada e a ressurreição da filha do chefe da sinagoga. Fé, confiança, e muita coragem para lidarmos com a vontade soberana daquele que controla a história, e inclusive a nossa história.
Para nós fica o desafio de tocar nele e crer somente; e esperar o tempo de Jesus, porque em Seu tempo, é a melhor hora para nós. O desfecho de nossa saga, não sabemos bem ao certo. Contudo, em Seu tempo, tudo, tudo fará sentido. O que precisamos é de muita fé e coragem, enquanto caminhamos por estas bandas de cá. Deus seja!