Ao ler os evangelhos é comum que ao olhar para Jesus, seus milagres, curas e palavras tenhamos sentimentos de orgulho e reafirmação, pelo menos comigo acontece de modo muito recorrente. A verdade é que o sentimento dos escritores dos evangelhos não é outro a não ser o sentimento de quem sabe e já entende quem é de fato este mestre que vence a morte sendo o próprio Deus, e por isso em cada linha escrita por estes homens existe a vontade de revelar a seus leitores a grandeza de seu Mestre-Deus (Filipenses 2.6). Para fazer isto, um dos recursos utilizados por eles é a comparação entre o tipo de mestre que Jesus é e o tipo de mestre “disponível” no judaísmo (mestres da lei, fariseus e saduceus). Podemos ver este recurso comparativo sendo usado quando Mateus e Marcos utilizam a expressão “…porque lhes ensinava como alguém que tem autoridade e não como os mestres da lei.” (Mc 1.22 – Mt 7.29) formado a comparação entre o que era o ensinamento comum do judaísmo e o ensinamento de Jesus. E de fato o ensinamento de Jesus sobre toda a Escritura se baseava em um profundo conhecimento de Deus (Pai) e do apontamento desta revelação profética para ele mesmo (Filho), como o Mestre que veio para servir e se colocar no lugar de servo (Filipenses 2.5-8) para lhes servir em amor e é por este motivo que a manifestação do seu ensinamento transmitia autoridade (1 Timóteo 1.5-7), e sabemos que com esta mesma autoridade devemos ensinar (Tito 2.15) e exortar a todos, afinal é também assim nossa vida como a do Mestre, servindo em amor, dando nossa vida em serviço e ensinando a todos como quem sabe do que está falando, certo? Sabemos que neste mesmo recurso comparativo se baseia o ensinamento de Paulo às igrejas (Romanos 5.8); somos pecadores e ele é Santo, certo?
Precisamos ter muito cuidado com estes sentimentos gloriosos de orgulho e reafirmação! Eles precisam ser dobrados ao exemplo e ensinamentos de Cristo que vem para servir em amor e morrer em serviço. Precisamos dobrar estes sentimentos a este que é o nosso objetivo principal; servir a todos e anunciar o evangelho de Cristo, e este paradoxo de orgulho e glória quer nos tornar arrogantes e “especiais” nos distanciando do serviço e nos tornando transmissores de uma imagem implícita de que nosso Mestre é o mestre dos perfeitos e infalíveis, imputando aos que se aproximam de Cristo através de nós pré-requisitos de moralidade, conduta e pensamento. Isso cria barreiras e dificuldades, para nós mesmos ao recebermos a revelação que vem pela Palavra do Mestre e para todos que se achegam a ele através de nossas vidas.
Percebam o que quero dizer, quando Jesus ao expulsar demônios dizia a eles, “Cale-se e saia dele!” (Mc 1.25). Ele não deixava os demônios falarem (Mc 1.34) sobre ele, porque quando isso acontecia eles revelavam medo e exclamavam que ele era o “Santo de Deus!” (Mc 1.24) e Jesus via nessa conduta demoníaca não a glória de ser publicamente reconhecido por estes “poderes” espirituais (como talvez nós mesmos gostaríamos que fosse feito) e sim o impedimento que a fama traria ao afastá-lo do acesso aos necessitados. Já percebeu que em muitas ocasiões em que as multidões se aproximavam dele ele saia para lugares mais estratégicos (Mt 5.1) para poder atender e ensinar a todos? Já percebeu que em curas promovidas por Jesus ele advertia os curados para que não falassem (Mc 1.24) do que tinha acontecido?
A fama de Jesus, em boa medida, fazia com que várias pessoas que haviam sido impulsionadas por Deus ao encontro do Mestre tivessem dificuldade de acessá-lo e Jesus sabia muito bem disso.
Não era assim o ensino judaico de sua época. Era exatamente fama e seguidores o que queriam os mestres da lei, os fariseus e os saduceus. E nós? O que queremos para o serviço de Cristo? Qual o papel queremos desempenhar em tempos tão sombrios? Qual o caminho e exemplos queremos seguir?
Que Deus releve de modo claro e transformador, através de seu Espírito o caminho que devemos trilhar, e que tenhamos o discernimento que teve o mestre ao escolher sempre o caminho do amor e do serviço.