Se Deus tem poder ilimitado sobre o visível e o invisível (Isaías 9.6 – Colossenses 2.3) é incompatível com essa realidade pensar que questionar a Ele ou própria Bíblia sobre nossas dúvidas, anseios e significado legítimos das coisas seja algo que ofende sua natureza Divina ou considerado pecaminoso. E para deixar claro, não estou me referindo a nossa vontade de confrontar e desafiar a Deus, e sim de conhecer a Sua vontade. Também não quero transformar a Bíblia em um oráculo e dizer que ela responde diretamente todos os questionamentos de qualquer pergunta que lhe seja feita.
O problema é que durante o desenvolvimento do Evangelho ao longo da história (principalmente no Brasil) os líderes das comunidades (pastores, bispos, padres, missionários, professores e NÓS MESMOS), muitas vezes se sentiam ou ainda se sentem confrontados pelos questionamentos legítimos dos fiéis (ou membros) de suas comunidades e por falta de argumentos, falta de estudo, falta de maturidade e tantas outras faltas (ou falhas) acabaram criando jargões e expressões clichê, como por exemplo: “Isto é um mistério de Deus!” ou ainda, “É o manto irmão!” e tantas outras frases prontas que desestimularam e “treinaram” os cristãos atuais a não questionar (nem a Deus, nem a Bíblia e nem a liderança local).
Não só paramos de questionar como criamos estilos de culto, reuniões, encontros, etc., cheios de jargões e clichês que em muitos casos (para não dizer a maioria deles) nós mesmos não entendemos de fato o que significam. Não estou dizendo com isto que devemos ser servidos de respostas ao questionar, como se algo nos fosse devido, mas observando os questionamentos que naturalmente surgem dentro de nós podemos ver uma movimentação em direção a Deus. E como todo aprendizado, “aprender também é questionar”.
Ok, e o que isso tem a ver? Como sempre, preciso da sua ajuda! Hoje vamos pensar sobre o que significa ter uma “nova vida em Cristo” e para isto os jargões, clichês e frases prontas não serão suficientes. Teremos que questionar, e em muitos casos, na nossa história individual, e até mesmo destruir muitos conceitos.
Vamos ler uma parte da carta de Paulo aos Romanos (Romanos 6.1-14) com bastante atenção e tentando raciocinar e relacionar ponto a ponto, palavra a palavra como se fosse a primeira vez que a lêssemos. Enquanto lemos vamos tentar nos desviar dos clichês e das interpretações prontas.
Paulo inicia o texto explicando que nossa nova vida dependeu do evento da Cruz de Cristo, ou seja Sua morte, e que este evento traz repercussões para vida de quem se uniu a Ele neste evento. Preste atenção, Paulo não está falando de algo que tem consequências apenas espirituais, ele está falando sobre vida do dia a dia, vida real ou como ele mesmo diz “corpo mortal” (NVI v.12). Paulo diz que nesta nova vida morremos para o pecado. Mas, com? (Por favor, jogue o clichê no lixo!)
Paulo como excelente professor começa a desconstruir a nossa ideia de ação e consequência com a seguinte pergunta: “…Continuaremos pecando para que a Graça aumente?” (NVI v.1) e ele mesmo responde: “De maneira nenhuma!” (NVI v.2).
Como, então, viver uma “nova vida” se não paramos de pecar e se a cada esquina procuramos argumentos, como a célebre frase “É o mistério irmão!”; e também desculpas para justificar a nossa permanência naquilo que parece ser uma vida antiga.
Pare para pensar…leia os versos seguintes. Especialmente no v.9 ele está nos ensinando que a graça elimina o problema do pecado de uma vez por todas e que a ressurreição de Cristo tira da morte o seu domínio e poderio (leia também condenação ou separação do Pai). Paulo está tentando nos fazer mudar a visão sobre o mundo ao nosso redor e sobre a nossa própria vida!
Se em Cristo já vencemos esta fase (v.v. 5-7) quer dizer então que não poderíamos estar pecando do modo como ainda pecamos? É isto que Paulo quer dizer? Não! Absolutamente não! O que ele diz é que antes não havia outro caminho a não ser o do pecado, mas agora nesta nova vida em Cristo, o pecado já não tem domínio e ele pode ser combatido, afastado, diminuído e até mesmo expurgado de nossas vidas, ponto a ponto, problema a problema.
Podemos agora, em Cristo, vencer as práticas condenáveis de nosso dia a dia. Acabar pouco a pouco com a mentira, hipocrisia, corrupção, egoísmo, imoralidade sexual e tantas outras práticas disfarçadas por nossas desculpas diárias.
Pense…Reavalie seu dia…Mude! Você já não está mais sujeito ao pecado! Esse deve ser seu trabalho árduo e duro em resposta à vitória já conquistada na Cruz. É esta a realidade apresentada pelo apóstolo.
Chega de clichê! Chega de Jargões! Que vivamos nossas vidas novas e renovadas pelas verdades do Evangelho de Cristo!
Presbítero Alessandro Pena