É só olhar em volta e você vai perceber que boa parte da sua vida é baseada nos resultados que você obtém. Se têm boa nota, passa de ano ou tira boa nota no ENEM seus pais (ou parentes) ficam orgulhosos…Se têm bons resultados em venda, mantém o emprego e talvez até ganhe uma bonificação, fica “bem” com o chefe…Se compartilha coisas interessantes, posta muitas fotos e evita falar de política, ganha muitos seguidores nas redes sociais (ou mantém os que já têm)…Se assiste todas as séries e filmes do Netflix, mantêm as amizades…Se conhece as músicas que estão “na moda”, recebe elogios no repertório… Se vai a todas os cultos e programações da igreja (seja ela qual for), é reconhecido como crente “de verdade”. Percebeu?!?! E se você fosse chamado para fazer qualquer uma dessas coisas e fosse avisado por quem te chamou de que não veria os resultados? Você faria assim mesmo?
Talvez sua resposta seja “depende de quem chamou…” ou talvez queira perguntar “mas quem me chamaria para fazer algo assim?”, ou ainda “se não vai ter retorno, para que fazer?”. O fato é que se você pensou em qualquer uma dessas respostas (ou ainda algumas outras) perceba que sua própria resposta vai demandar um resultado. Você vai querer que sua resposta “dê certo”.
O profeta Isaías foi chamado por Deus a ser profeta em uma situação exatamente como esta, Deus o avisa de que ninguém iria ouvir (crer) as suas profecias e que elas não gerariam nenhum resultado positivo para sua geração (Isaías 6.9-10). Ou seja, foi chamado para não ver o resultado de seu trabalho como profeta. Como Isaías consegue conviver com esta situação?
Isaías era um tipo de embaixador e conselheiro, era homem importante no governo de pelo menos 4 reis de Judá e sem abandonar seu posto é chamado a ser profeta e a carregar em suas ações e seu corpo os símbolos de sua profecia. Como exemplo ele andou 3 anos nu como sinal de advertência de Deus contra o Egito e a Etiópia (Isaías 20.2-3). Ele tinha todo o bom resultado de seu trabalho como conselheiro de reis reconhecido, tanto que passou por quatro deles sem prejuízo ao cargo. Contudo escolheu obedecer a Deus e fazer seu trabalho como profeta sem “colher os frutos” dessa função.
Vendo a ação e a obediência de Isaías ficamos um pouco confusos, não é?!?! Socialmente somos tão ligados aos resultados que colhemos que nos parece pouco provável enxergar algo fora disto. E é aí que a coisa complica, pois baseamos nossa relação com Deus, com a religiosidade e com nossa comunidade de fé nos resultados. Quer um exemplo? Se não vemos nossa igreja cheia domingo após domingo começamos a procurar o problema que nos impediu de alcançar este resultado, não é mesmo?!?! Até nossas orações são assim…Se não recebemos o que insistentemente pedimos começamos a projetar novos métodos para alcançar as benesses de Deus, não é verdade?!?!
Como então viver sem fora deste ciclo de obtenção de resultados? Antes de tudo é preciso reconhecer, não só na história de Isaías como na sua história que de não temos e nem tivemos o controle nas mãos, mesmo que isto parecesse possível os resultados a longo prazo que você obteve não foram exatamente como você esperava. E se obteve os resultados que esperava a ação que o gerou estava fora de seu controle. Você consegue perceber isto?
Depois de reconhecer o controle dele sobre a sua história, devemos seguir o exemplo do profeta Isaías que diz “Esperarei pelo Senhor, que está escondendo o seu rosto (ou Salvação) da descendência de Jacó. Nele porei a minha esperança.” (NVI Isaías 8.17)
Deus tem um plano maior que nossa capacidade de enxergar e apesar de Isaías não ter colhido os frutos de seu trabalho como profeta, ele é o profeta mais citado de todo o novo testamento, inclusive por Jesus, e é dele a revelação que traz ao judeus do tempo de Jesus (e até hoje) a figura do messias e a obra redentora de Deus. Ele é quem revela a Salvação a judeus e gentios, que somos nós.
Se o estudo do livro de Isaías nos ajudar a responder apenas a pergunta “Como então viver sem fora deste ciclo de obtenção de resultados?”, talvez consigamos viver nossas vidas sem, ou pelo menos sendo menos pressionados, nos transformando dia a dia rumo ao resultado incontrolável e imutável; nossa Salvação em Cristo Jesus.
Presbítero Alessandro Pena