O universo episcopal brasileiro contemporâneo, lida com um movimento peculiar de constante tensão entre uma relação aparentemente dicotômica, no tocante ao ministério da exposição bíblica: de um lado, temos (a) aqueles devotados ao brilhantismo intelectual iluminado, sistemático e meticuloso; do outro, tem-se (b) os defensores de uma vocação voltada para o fervor expositivo espontâneo, poderoso e caloroso – e claro, “tudo para a glória Dele”!
Poderíamos, então, questionar o seguinte: “Quem estaria correto neste suposto dilema”? Sou levado a crer, pelo testemunho bíblico e pela boa tradição cristã, que na realidade o erro está na formulação da pergunta, pois esta pressupõe uma relação excludente entre devoção erudita iluminada e o fervor espiritual vivificado. Como apresentamos na última exposição, Paulo (2Tm 3:15) demanda de Timóteo um exercício pastoral pautado em três princípios fundamentais: (1) Ortodoxia ou ‘erudição’, (2) Ortopraxia ou ‘piedade’ e (3) Ortopatia ou ‘intenção’ e ‘vontade’ verdadeiras. Pelo testemunho e modelo de Paulo, Timóteo e tantos outros, o ministério expositivo somente será eficaz, havendo vocação, iluminação e vivificação mediante a obra soberana do Espírito Santo de Deus e seu poder que opera no homem de Deus. É esta a defesa de Paulo no texto de 1Coríntios 2:1-4, em que o apóstolo nos apresenta a forma, a mensagem e o propósito de sua pregação aos homens, perante Deus.
O serviço ao Senhor deve ser feito zelosamente e fervorosamente por toda a congregação (Rm 12:11), o que incluiria obviamente, o santo ofício pastoral. Richard Baxter em “O Pastor Reformado”, usa este qualificador “Reformado”, tanto para indicar o conteúdo, o rigor e o comprometimento intelectual doutrinário, quanto para apontar uma “renovação” e um “avivamento” prático da parte do vocacionado, pelo poder de Deus, através de seu Santo Espírito. John MacArthur em “Rediscovering Expository Preaching” (Redescobrindo a Pregação Expositiva, p. 102, tradução nossa), afirma: “Nenhuma compreensão clara da Escritura, conduzida por uma poderosa pregação, será possível sem a obra iluminadora do Espírito”.
O ponto crucial aqui não é negar a instrumentalização teológica necessária ao ministro, em detrimento a uma profunda experiência espiritual extraordinária. Ou exaltar uma intelectualidade exacerbada que rejeite a necessidade da manifestação soberana do poder do Espírito por meio do pregador. Exegese acurada, clara estruturação textual, boas ilustrações e cuidadosa aplicação doutrinária, devem sempre estar acompanhadas daquilo que Arturo G. Azurdia III chama de “vitalidade do Espírito” em seu livro “Spirit Empowered Preaching” (Pregação Capacitada pelo Espirito, p. 115, tradução nossa). Na realidade, as Escrituras sempre estabeleceram uma relação direta entre o “ser cheio do Espírito” e o ato de “pregar” ou “prefetizar” (proferir) ousadamente a palavra do Senhor, seja em seu caráter veterotestamentário (Ne 9:20,30; Ez 11:5), ou seja numa perspectiva neotestamentária (Lc 1:15-17; At 4:31;).
Deste modo, afirmamos que esta tríplice capacitação ou virtude, é fundamental ao ministro de Deus para a solidificação dos crentes. Estas estiveram presentes nos profetas do Antigo Testamento, nos apóstolos do Novo Testamento e, até mesmo, sobre a vida do Verbo Encarnado, o Messias, nosso salvador Jesus Cristo (Lc 4:18). Quão mais necessárias não seriam elas em nosso ministério pastoral? Desta forma, buscamos o Espírito pelo poder da Palavra, a Palavra no poder do Espírito, ansiando sermos luz que queima, calor que brilha, e tudo isso para uma maior Glória de Deus e de seu Santo Espirito, o engrandecimento do nome de Cristo e a edificação de sua amada Igreja.
E por qual razão afirmamos tudo isto, num dia como este, em que celebramos a vida e o aniversário do reverendíssimo Eduardo Nunes, bem como o retomar das atividades deste santo ministério chamado “Missional Buritis”? Meu pleito irmãos, mediante o exposto, seria o seguinte: com o Rev. Eduardo, e porque não dizer também com o Rev. Robinho, aprendi uma teologia pastoral piedosa; o sabor da santa letra regada ao azeite do Espírito; que o estar de joelhos em secreto precede o estar de pé em público; que jejum sem oração é regime; oração sem devoção é reza; que devoção desapaixonada é enfado religioso; aprendi o debruçar sobre a prateleira dos livros e o curvar-me perante a beleza, a majestade e o poder de Deus. Com a “Missional”, descobri uma missiologia cruciforme; uma espiritualidade que nos humanizada; uma fé que encarna o amor de Deus para o benefício do outro; o clamor do “venha teu reino” e a justiça do “seja feita a tua vontade aqui na terra como é feita nos céus”.
Meus parabéns a vocês e glórias ao nosso Deus Tri-Uno, hoje e sempre, amém!
Pr. Tiago Rossi