Dar preferência ao que é rápido e fácil é nossa conduta diária há algumas décadas. Construímos culturas e comportamentos com base em nosso imediatismo que se materializa na busca pela dieta que tem o efeito mais rápido, pelo remédio que elimina com os sintomas mais depressa, pela “cruzada” de fé que soluciona todos os problemas e até pelo evangelismo que eleva o número de “membros” das comunidades. Esquecemo-nos das consequências; esquecemos o nosso chamado; esquecemos que precisamos de orientação; em última instância, esquecemo-nos de nossa dependência e assim nos tornamos muito ansiosos (1 Pedro 5.6-7).
Somos chamados a uma missão e comissionados por Aquele que efetua em nós sua COMPLETA Obra Redentiva (João 20.21). Entendendo que a obra é dele, e que através de seu Espírito em nós esta obra se desenvolve (Atos 1.6-8), devemos abrir mão do controle, abrir mão da ansiedade e nos render à vontade sublime do Espírito Santo que habita em nós (João 3.8).
A bíblia não tem o compromisso de esgotar nossas perguntas com respostas prontas e simples, e ela se contrapõe neste sentido à nossa busca desenfreada pelo que é imediato. O compromisso bíblico é o de nos apresentar o caráter de Deus e nos preparar para a missão, que é pregar a Boa Nova de Cristo e libertar os cativos ao apresentar a Salvação por meio de Jesus e sua eterna graça.
Um exemplo muito especial de como levar as Boas Novas é o encontro de Filipe com o oficial da Rainha dos Etíopes (Atos 8.26-40). Ele é transformador para Filipe, para o Etíope e para nós. No verso 26 de Atos 8, Filipe recebe a mensagem do anjo que o orienta a ir para a estrada que vai de Jerusalém a Gaza; perceba o que é pedido a ele: ir a um caminho deserto e certamente perigoso, e a resposta “muda” de Felipe é a do início do verso 27 – “Ele se levantou e partiu.”. Felipe obedece a ordem sem saber detalhes, sem bolar um plano, sem arquitetar uma estratégia de rota, sem controle do resultado.
Chegando ao local ele encontra uma figura que é intencionalmente descrita na passagem bíblica como um eunuco etíope, oficial encarregado de todos os tesouros de Candace (Rainha dos Etíopes), que vai a Jerusalém para adorar a Deus e volta para casa em uma carruagem lendo uma cópia do livro de Isaías. Sabemos que o cenário que ele encontra em Jerusalém é um cenário de perseguição das autoridades judaicas ao povo chamado “do Caminho” (Atos 9.1), a igreja de Cristo não mais existia como antes em Jerusalém (Atos 8.1-3), somente os discípulos ficaram e certamente escondidos. Este eunuco consegue em meio a este cenário uma cópia do livro de Isaías, provavelmente em uma sinagoga. O cuidado da bíblia em citar que ele era eunuco é evidencia da condição de rejeição ao qual ele foi submetido (Levíticos 21.16-24 / Deuteronômio 23.1), pois mesmo com sua importância e condição financeira, ele é rejeitado na sinagoga que atuava em nome da “lei” divina.
Filipe então ouve a voz do Espírito que disse a ele: “Aproxime-se dessa carruagem e acompanhe-a.”. Mais uma vez Filipe se expõe ao “absurdo” e, mudo, corre atrás da carruagem. Filipe ouve o estrangeiro lendo o livro de Isaías e entende que deve abordá-lo e começa com uma pergunta “O senhor entende o que está lendo?”.
Quem motivou este eunuco? Quem o pôs a ler o livro de Isaías? Quem deu a ele a motivação para sair de longe para adorar a Deus? Por certo não foi Filipe, assim como em nossa missão quem controla as condições e motiva as pessoas e prepara seus corações não somos nós. A resposta do oficial é seguida de um convite (v.31) e a bíblia é clara em informar que, (v.35) nem mesmo por onde ele iria começar a apresentar Jesus foi escolha dele.
Depois de ouvir a Filipe, o oficial o confronta (v.36): “Olhe, aqui há água. Que me impede de ser batizado?”, e ele descobre que o Deus a quem ele foi apresentado vai ao encontro de seus anseios e o liberta da exclusão e rejeição (Isaías 56.3-5).
Só nos resta abrir mão do controle, deixar o Espírito Santo de Deus agir e nos conduzir, e assim, a cada nova ordem de Deus, (v.40) nos colocar à disposição Dele anunciando as boas novas e libertando os cativos.
Seminarista Alessandro Pena