Continuamos seguindo o planejamento temático de nosso ano: o livro de Gênesis. Continuaremos estudando sobre a criação divina de todo o universo, e nesta noite especificamente iremos tratar da criação dos seres humanos. Esse é um assunto muito interessante e que trás muitos questionamentos, e gostaria de desafiá-los a pensar comigo sobre a maneira peculiar de como o Eterno resolveu criar sua obra prima, se assim poderíamos dizer sobre nós mesmos.
Na narrativa bíblica, Deus cria o homem e mulher à sua imagem e à sua semelhança (Gênesis 1.27). As Escrituras nos informam que ambos foram criados à imagem do nosso Deus, santo e perfeito. Ambos são chamados para serem cogerentes com o Criador e coregentes dele. E Deus os abençoou, a ambos, dizendo que deveriam ser fecundos, multiplicar, encher a terra, e sujeita-la. Também os abençoou dizendo que dominassem sobre toda a criação. Observe com muita atenção que a ordem é dada aos dois, a ambos. E viu Deus tudo quanto fizera, e eis que era tudo muito bom (Gênesis 1.31). A criação divina é um ato perfeito e lindo. Homem e mulher, macho e fêmea, são convocados para atender um mandato cultural e social de ordem abrangente.
Observe que, aqui no capítulo dois, Deus cria o macho da raça humana em primeiro lugar (v.7). Pela primeira vez na narrativa bíblica percebemos que Deus achou algo que não estava bom. Ele disse que não era bom que o macho vivesse só (v.18), sem uma companheira, uma auxiliadora, uma que lhe fosse correspondente e idônea. Deus cria, portanto, a varoa para ser a esposa párea para o varão.
Se unirmos os dois conceitos – auxiliadora e idônea – percebemos com clareza que não há como presumirmos, a partir dos conceitos bíblicos, que a fêmea da raça humana fora criada inferior. Não há, em hipótese alguma, uma relação hierárquica diferenciada na narrativa da criação. Portanto, devemos concluir que o ato criador de Deus objetivava uma relação linda, complementar e relacional, de igual para igual, entre os pares da criação.
É importante relembrar que ambos foram criados à imagem de Deus. Tanto a fêmea quanto o macho carregam em si mesmos a imagem da pessoa do Eterno. Não podemos afirmar que a imagem de Deus é menor ou mais ofuscada em um ou em outro. Na verdade, a relação dos dois, enquanto complementares e distintos, criados à imagem do Criador, trazem neles mesmos a possibilidade da expressão do ser de Deus, e juntos fazem com que o mistério da trindade – unidade na diversidade – seja entendido com mais clareza.
A chegada da mulher para a realidade do homem é algo especial do coração de Deus. O relacionamento estabelecido por Deus para o primeiro casal sem pecado é o modelo que devemos perseguir para todas as nossas relações. Eles estão tão interagidos entre si que se tornam uma só carne. Que influência mútua tremenda!
O ser uma só carne tem que ser entendido à luz do processo do relacionamento mútuo. O texto diz que os dois estavam nus e não se envergonhavam. Uma só carne deve ser entendida mais do que o relacionamento sexual, pois o que está em foco aqui é a transparência, a inocência e a sinceridade pura entre o casal; um relacionamento autêntico, transparente e visceral entre eles.
Quando nos colocamos nus diante dos outros, assumimos quem somos e respeitamos o que o outro é. Cada um é de um jeito, de uma forma. Os dons são ressaltados e as habilidades pessoais destacadas. É assim no amor. É assim com o próximo, é assim entre cônjuges, é assim com Deus. E somente movidos pelo amor, pelo amor genuíno, é que temos tal capacidade de nos relacionar dessa forma plena.
Uma só carne só pode ser entendida quando percebemos a igualdade na diversidade. Quando percebemos que somos aceitos como somos, e não precisamos mentir nem esconder para nos relacionar com propriedade, para amar e sermos amados.
Que Deus nos ajude a compreender este mistério lindo e que possamos buscar, de todo o nosso coração, relacionarmos uns com os outros de maneira intensa, autêntica, inteira e visceral, para a glória de Deus e alegria nossa. Amém.