Como disse na semana passada, o macho e a fêmea da espécie humana, ambos foram criados a imagem de Deus, e Deus os abençoou, aos dois, dizendo que deveriam ser fecundos, multiplicar, encher a terra, sujeitando-a. Também os abençoou dizendo que dominassem sobre toda a criação, inclusive tecnologicamente, como seus cogerentes e coregentes. Observe com muita atenção que a ordem é dada aos dois, como ressaltei no sermão anterior, pois ambos foram criados completamente à imagem de Deus. Tanto a fêmea quanto o macho carregam em si mesmos a imagem da pessoa do Criador.
Mas, o que de fato significa ser criado a imagem e a semelhança de Deus? Essa é uma questão que não tem uma resposta simples, mas tem, sim, uma resposta prática. Em termos bem simples, ter a “imagem” e formados à “semelhança” de Deus significa que fomos feitos para nos parecermos com ele. Isso não quer dizer que somos fisicamente parecidos com ele, pois Deus é Espírito e não possui um corpo como o nosso (João 4:24).
Contudo, devemos ter sempre em mente que há um só Criador e o restante é sua criação. Não podemos achar que, por sermos imagem e semelhança dele, somos “como” Deus e podemos tudo. Essa não é a realidade expressa na narrativa bíblica. Yahweh é o Senhor de tudo, aquele que não foi criado e sempre existiu; e é o criador dos céus e da terra e de tudo mais. Todo o resto é criado e, portanto, finito, temporal, dependente e mutável. Deus é Deus, e nós não! Essa diferenciação é necessária ser feita para que compreendamos a nossa real semelhança com o Criador.
Como disse, a ideia de sermos imagem de Deus (Imago Dei) não quer dizer a igualdade com ele. O ser humano é imagem de Deus porque há certa semelhança de Deus nele. Não há, porém, uma igualdade párea entre Deus e o homem, visto que Deus é muitíssimo e infinitamente superior e diferente da humanidade que ele criou do pó da terra.
É importante entender também que Deus não pode ser explicado ou definido de forma plena e compreensível a nós mortais. Em nossa capacidade humana, nada pode expressar o ser de Deus de forma adequada, nem mesmo com algum atributo, palavra, expressão ou frase, pois Deus, em sua plenitude e grandeza, é completamente incompreensível para nós, seres limitados e mortais. Contudo, o Deus que resolveu se relacionar com sua criação deixou marcas em nós que deixam nítida a lembrança de quem ele é. São o que chamamos na teologia dos Atributos Comunicáveis (ou conhecidos) de Deus. O Eterno se faz conhecido a nós através de alguns predicados, como o amor, a bondade, a misericórdia, o senso de justiça, a verdade, e outros.
Quando Deus criou o homem, ele o fez de forma perfeita e sem pecado, e com essas características que citei, que são parte do caráter da trindade perfeita. Porém, o pecado distorceu e maculou essa imagem, deformando o caráter da humanidade, o que também afetou toda a criação. Devemos nos lembrar de que, antes da queda, o homem não estava contaminado pelo pecado e podia tomar livre e boas decisões sobre sua conduta moral. Porém o homem pecou… e a imagem de Deus foi desfigurada e deteriorada em sua essência. Ele se tornou incapaz de produzir justiça própria para alcançar, por si mesmo, a salvação de sua alma.
Mas, é certo que nós, pecadores de todos os tempos, continuamos a ter a imagem de Deus. Contudo, essa imagem está ofuscada, desfigurada pelo pecado que atingiu em cheio todos os filhos de mulher. Isso quer dizer que a imagem de Deus não está totalmente inutilizada em nós, e o que “resta” dEle ainda em nós é mais do que suficiente para sustentar a santidade da vida humana que se baseia na imago Dei – nessa imagem dele em nós.
Perdemos, de fato, o Livre Arbítrio para alcançar a salvação, mas pela imagem dele ainda em nós, mesmo que ofuscada, temos o poder da Livre Agência, ou seja, de tomar boas decisões que nos abençoam, bem como aqueles que estão ao nosso redor.
Cabe a nós, como filhos obedientes e desejos em servir nosso Amado Pai, andar em boa conduta e boas obras, tomando sempre boas decisões que honram o Seu nome e que abençoam o mundo perdido – tudo dentro da esfera de vida que Ele nos permitiu viver – onde quer que estejamos.
Que sejamos melhores amanhã do que fomos hoje, e assim honraremos essa imagem de Deus em nós. Paz e bem!